Jesus ensinou que as nossas orações devem ser dirigidas ao nosso Pai interior, e não há meios de encontrar o centro onde Deus se encontra a não ser quando estamos quietos, em paz e interiormente serenos.
Assim, se faz necessário ir para o aposento, fichar a porta do santuário, eliminar as luzes e os ruídos dos sentidos para podermos tocar o nosso centro.
Cada pensamento que ocorre em nossa consciência encontra o trono de Deus e volta para nós. Não tem de ser visto ou ouvido e só há um meio pelo qual podemos avaliá-lo: deve ser secreto e desinteressado.
“Bem ali, dentro do próprio ser, está o Pai, e o Pai sabe das nossas necessidades; esse Pai sabe das meditações do nosso coração; esse Pai sabe quando o nosso agir parte da pureza ou é movido pelo auto-interesse ou pela hipocrisia.”
As finalidades da vida estão dentro de nós, e é aí que são resolvidos.
Dentro de nós está todo o Reino de Deus – o que significa que dentro de nós estão a imortalidade, a eternidade, a virtude, a prosperidade, a saúde, a harmonia, a totalidade, a perfeição e a plenitude.
Em nossa seidade humana nunca podemos ser causa externa, pois como humanos que somos vivemos em termos de efeitos e não de causas; mas quando o ser humano aprende a estabelecer o contato com sua Fonte, é ele levado para o Invisível e está então de volta ao Éden.
É só habitando no santuário interior que se consegue voltar à casa do Pai, pois na meditação o ego, ou sentido pessoal do eu, que nos fazia viver do suor da fonte, está aquietado.
Não é pedindo poder, compreensão ou sabedoria – pelo contrario, é assumindo uma atitude de humilde, como a de quem diz “eu sou insuficiente, incompleto e sem harmonia; e assim agora eu me volto para a Fonte do meu Ser, para Aquele que é maior que eu”.
Pela nossa quietude demonstramos nossa humildade. As orações costumeiras fazem o homem superior a Deus, já que dizem para Deus o que o homem quer e, geralmente, quando o quer. Exaltam assim o ego, pois ousam tentar influenciar Deus em favor disto ou daquilo.
Mas, no silencio da meditação, a oração assume uma forma assim: “Não te peço para atender meus propósitos, para fazer minha vontade, atender meus desejos ou minhas ordens. Eu sou o Teu servo – faz de mim o que quiseres. Ensina-me, alimenta-me, dirige-me. Tu estás mais próximo de mim que meu próprio alento. Tu conheces mais do que eu minhas necessidades, e é Teu maior prazer dar-me o Reino. Eu espero por Ti”.
Nessa atitude de espera cria-se um vácuo, e o ego se aquieta na expectativa. O sentido pessoal de “eu”, com seus desejos, com suas vontades, seus contentamentos e ambições, se apaga, e aí então está o ambiente propicio a que se acenda a centelha transcendental.
Terá de haver humildade, antes que o Espírito do Senhor venha sobre nós.
E assim, quando oramos em segredo, descobrimos nossa unidade com o Pai e, por causa dessa unidade, tudo o que o Pai tem é também nosso por divina herança; é o maior prazer do Pai dar-nos o Reino e nós não mais precisamos olhar para ninguém esperando prêmios, compensações, gratidão, cooperação ou afeto.
Quando compreendemos nossa relação com o Pai, aprendemos a moldar nossos pensamentos e ações de acordo com a Sua vontade.
A natureza e o propósito da oração são pouco compreendidos na vida religiosa dos homens e mulheres de hoje. O segredo, contudo, é tão potente quanto o silêncio. Na realidade é a chave do sucesso espiritual, e sem essa atitude secreta a manifestação espiritual é impossível.
“Tomai cuidado para não dardes vossas esmolas diante dos homens para serdes vistos por eles: de outra maneira não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos Céus. Assim, quando derdes vossa esmolas, não soai as trombetas diante de vós, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, que podem ser glorificados pelos homens. Na realidade, vos digo, eles já têm sua recompensa.” (Mateus 6:1-2)
Não é uma exposição bastante clara? E, todavia, quantas pessoas no mundo fazem a caridade diante dos homens, têm sua generosidade publicada nos jornais, no boletim da igreja ou em qualquer lugar onde algum vizinho, concidadão ou sócio que precise ser impressionado possa ver e comentar sua grande nobreza e contribuição para com a comunidade e, possivelmente, o quanto ele são bons cristãos. Porém, a respeito dessa pratica, disse Jesus, o Cristo, que “não tereis recompensa do vosso Pai que está nos Céus”.
“Mas quando derdes esmolas, não deixai a vossa mão esquerda saber o que fez a mão direita; que vossas esmolas sejam em segredo: e o vosso Pai, que vê no secreto, vos compensará largamente.” (Mateus 6: 3-4)
O Pai em nós é a nossa própria Alma, e qualquer coisa que façamos nossa Alma sabe; e se o fizemos em segredo e em silêncio, Ele saberá como nos compensar largamente.
Todavia, quando fazemos algo de bom e o fazemos abertamente, há uma implicação anterior a qualquer outra, ou seja, que somos nós que fazemos esse algo, o que não é verdade, uma vez que Deus é o autor de tudo o que é bom, e nós somos, quando muito, instrumentos ou transparências pelos quais se manifesta a Graça de Deus. De mais a mais, queremos subconscientemente que os outros percebem nossos feitos bons e nossa filantropia, como se nós mesmos fôssemos bons.
Quando porém damos as esmolas em segredo, o sentido pessoal de “eu” está completamente ausente, e apenas Deus testemunha nossos atos. Toda boa ação feita secreta e sagradamente confirma a ausência do sentido pessoal e a presença de Deus.
“E pois, quando jejuares, não faças como os hipócritas do semblante triste; eles desfiguram sua face para mostrarem aos homens que estão em jejum. Na verdade, vos digo, eles já têm sua recompensa. Mas tu, quando jejuares, unge a tua cabeça e lava o teu rosto, para que não pareça aos homens que jejuas, mas ao teu Pai que está em secreto. E o teu Pai, que vê em secreto, te compensará largamente.” (Mateus 6: 16-18)
Não demonstremos nosso saber espiritual abertamente; não alardeemos para os homens que achamos o segredo da comunhão coma a Fonte da Vida.
Não exponhamos nossas pérolas espirituais àqueles que não estão preparados, para que não se percam ou sejam pisoteadas. Deixemos brilhar nossa luz onde possa ser usufruída, em vez de exibi-la diante dos homens e obscurecê-la com o céu das palavras.
Não é egoísmo mantermos em segredo nosso relacionamento com Deus, pois nossa luz brilhará para aqueles que estão prontos para vê-la; nossa sabedoria será ouvida por aqueles que têm ouvidos para ela, mesmo que seja transmitida sem palavras ou pensamentos.
O jejum espiritual é um comunicar íntimo com Deus, enquanto se abstém de palavras e pensamentos. É habitar em Deus sem que seja percebido pelos que nos rodeiam. É a oração em seu sentido maior, que se abstém de pretender qualquer coisa de Deus, embora seja a percepção do livre fluir da Graça de Deus.
Um ensinamento nesse tão elevado nível de consciência nunca pode ser compreendido pela mente racional humana, e por isso só pode ser seguido por aqueles cujo intuito é a realização espiritual.
Quão raramente tais ensinamentos esotéricos de Jesus sobre o manter segredo foram ensinados abertamente!
Quão raramente foi reconhecido que há um centro espiritual em cada pessoa, mencionado em revelações como “Filho, tu estás sempre comigo e tudo que tenho é teu”, ou “Eu nunca de deixarei, nem te abandonarei”, ou “Eu estou sempre contigo, até o fim do mundo”.
Quantos de nós compreendem o mistério de tais ensinamentos? Quantos de nós sabem que esse “Eu” está literalmente em nós e que o “Eu” que vem secreto nos recompensou largamente?
Pela meditação e contemplação podemos resolver o mistério da vida espiritual, e isso podemos fazer apenas quando, secreta e sagradamente, contemplamos a natureza do Infinito Invisível, que está mais perto de nós que o próprio fôlego.
Nunca devemos acreditar que os mistérios de Deus sejam-nos revelados em meio ao clamor da discussão, da argumentação ou da teorização.
Os mistérios ocultos não são ocultos para aqueles que compreendem e seguem os ensinamentos do Sermão da Montanha.