Capítulo XI
PORQUE O AMOR É DEUS
O segredo de como viver com os outros é vivermos e mover-nos sintonizados com a Consciência Cósmica. Qual é o segredo de nosso relacionamento com as pessoas, como conseguir que esse relacionamento seja harmonioso? Do ponto de vista humano, relações satisfatórias entre pessoas humanas ou grupos de pessoas, dependem da qualidade da comunicação. Freqüentemente resultam em incompreensão, devido a crença de que há muitas mentes com interesses diferentes, de que podemos tirar algo de alguém ou de que podem tirar algo de nós.
O Caminho Infinito, contudo, considera esse problema sob luz inteiramente diversa.
O segredo reside em reconhecer que não somos seres separados uns dos outros, mas que nossa unidade com Deus nos liga a todos os seres. Deus é a Mente individual; a Mente de Deus em mim reverencia a Mente de Deus em vós.
A Inteligência Infinita está agindo através de vós. Uma Inteligência fala, uma Inteligência ouve; nós somos UM. Estamos de acordo, não porque vós concordais comigo, mas porque Deus concorda com Ele mesmo. Deus é o Espírito Único, portanto em nossa mente única não pode haver incompreensão. Deus fala a Deus, Vida se revela em Vida, a alma se comunica com a alma. Nada mais sou do que um instrumento através do qual a Inteligência Infinita e o Amor divino estão sendo revelados à Inteligência Infinita e ao Divino Amor daqueles que entram no âmbito de minha consciência. No fluxo do amor que transborda de mim para vós e de vós para mim, não há separação.
As pressões do mundo não só nos separam de Deus como também separam o homem do homem, o homem da mulher, o pai do filho e vice-versa; amigo do amigo, empregado do empregador, etc... O mundo nos fez inimigos naturais uns dos outros e “o grande animal-homem saqueia todos os outros animais”. O caminho do mundo é a separação, o Caminho do Cristo é a Unidade.
Isaias aprendeu esse sentido de unidade quando disse: “O lobo habitará com o cordeiro e o leopardo com o cabrito; permanecerão juntos o corvo e o leão..., não se ferirão, não se destruirão em todo meu solo sagrado”.
Amor é o ingrediente essencial em todas as relações satisfatórias. Nosso amor a Deus se manifesta em nosso amor aos homens. Somos Um com Deus e Um com todos os Seus filhos, com nossas famílias e parentes, com os membros de nossa igreja, com os associados de nossos empreendimentos, com nossos amigos. Quando reconhecemos Deus como nosso vizinho, tornamo-nos membros do Lar Divino, santos no Reino Espiritual; há uma completa rendição de si mesmo ao Mar Infinito do Espírito. Os bens de Deus fluem para nós, através de todos os que fazem parte de nosso universo.
Aos que vivem em comunhão com Deus, servindo-O através do próximo, a promessa é literalmente cumprida: “Tudo que Eu tenho é teu”. Desvanece o desejo por algo ou alguém; pessoas e coisas tornam-se parte do nosso ser. O que abdicamos, temos; o que abarcamos com a garra da posse, perdemos. Atraímos aquilo que renunciamos, conservamos aquilo que perdemos, tudo o que deixamos livre liga-se a nós, para sempre. Não devemos manter ninguém em servidão por dívida de amor, ódio, temor ou dúvida. Não devemos reclamar amor de ninguém, devemos, ao contrário, convencer-nos de que ninguém nos deve. Somente quando nos considerarmos devedores de uma obrigação, sem mantermos quem quer que seja como nosso devedor, somente então poderemos considerarmo-nos livres, deixando o mundo que nos cerca, livre.
O transbordamento dessa experiência alcançará outros que são também instrutores de Deus e estes permutarão conosco vibrações superiores auridas na mesma Fonte Infinita. Se reclamarmos amor de alguém, essa atitude de exigência obstruirá; limitando o fluxo de amor para nós. Mantendo nossa União consciente com Deus, pela compreensão de que “Eu e o Pai somos UM”, desobstruiremos o canal, através do qual a Atividade de Deus flui para nós, por meio de todos os que são receptivos e respondem ao impulso divino.
Nosso contato com Deus determina nosso contato com todas as pessoas ou lugares, do modo que possam desempenhar um papel no desdobramento de nossa experiência diária.
Todo o Universo – e somente pessoas e lugares que nos cercam – são veículos que nos conduzem a essa visão de Unidade. No mundo, onde quer que haja um bem ele encontrará um caminho para derramar-se sobre nós. O bem que nos invade vem da Graça que fluirá indefinidamente “se não interferimos no planejamento, segundo o qual ela deverá manifestar-se”.
Compreendendo que Deus é o Doador Único de todos os bens, devemos ater-nos a aceitar apenas aquelas coisas que são nossas, por direito humano; se tivermos de arrostar algumas ações pelos tribunais de justiça, naturalmente tomaremos os cuidados humanos necessários para conduzir a demanda e apresentar nosso caso da melhor maneira possível.
No entanto, nossa fé e confiança não devem repousar no tecnicismo dos processos legais, mas em Deus, Fonte de toda justiça. Juiz, jurados, advogados, testemunhas serão considerados meros instrumentos para exprimirem a Justiça de Deus.
A atitude dos outros para conosco é problema deles, agindo de acordo com o bem ou contrariamente a ele, a colheita lhes pertence. Os outros só têm possibilidade de fazer-nos algum mal, se interesseiramente estivermos esperando deles algum bem.
Desde que nos tenhamos submetido ao governo, isto é, ao controle de Deus, ninguém poderá fazer-nos mal.
Contemplando sempre o Pai dentro de nós, os pensamentos e obras dos homens não conseguirão atingir-nos.
Somos responsáveis exclusivamente por “aquilo que fazemos” aos outros; nesse particular, nossa conduta deve sintonizar com o grande mandamento: “Ama a teu próximo como a ti mesmo; ama a teus inimigos, perdoa a setenta vezes sete”. Ora por aqueles que maliciosamente se aproveitam de ti, jamais temas ou desprezes os que agem contrariamente à Divina Lei; rejubila-te com aqueles que permitem a Deus empregá-los como instrumentos do bem. Estamos em contato com uma humanidade de muitos níveis; elementos bons, elementos maus, alguns mesmos intoleráveis.
Assim, diversos são, no gênero humano os estados de consciência. Viver meramente com recursos próprios, potenciais, ocultos, inconscientes da verdadeira identidade, torna a vida uma luta sem tréguas e sem esperança, contra adversidades insuperáveis; má saúde, poucas rendas, elevados tributos.
Para encobrir seus insucessos, muitos assumem atitudes jactanciosas, a fim de mascarar seus desapontamentos e frustrações. Essas pessoas têm fome de amor. E como desejam ser amadas? Antes de tudo, sendo compreendidas; muitos de nós estamos convictos de que ninguém nos compreende. Se nossos amigos e parentes realmente nos compreendessem, eles nos perdoariam mais. Cada vez que nos pomos em contato com pessoas de diferentes níveis, a nossa atitude deve assemelhar-se a do Mestre: “Pai, perdoa-os, pois não sabem o que fazem”, não despertaram para sua Cristificação.
Não obstante as aparências, Deus é seu verdadeiro ser, a única Lei que os governa e suas qualidades são de Deus, Há somente UM, exclusivamente UM SER Infinito. Assim como há somente uma vida, a Vida de Deus permeando nosso jardim, expressando-se de vários e diversos modos. Ainda que nossos amigos e conhecidos possam contar-se às centenas, há uma só Vida Única a manifestar-se, individualmente, lembrando-nos que nosso ser é Um com Deus nada temos a temer; nessa Unidade não pode haver discórdia, desarmonia e injustiça.
Nosso senso de benevolência resulta da compreensão de que ninguém nos pode causar dano por causa da graça de Deus que mantém e sustenta nosso parentesco com o Pai em toda e qualquer circunstância.
Há um fio invisível unindo-nos todos uns aos outros; esse fio é o Cristo. Se estivermos atados por laços materiais de qualquer natureza, cedo eles se tornarão frágeis sejam eles de sangue, casamento, membro de organização ou qualquer forma de obrigação humana. Se forem de natureza estritamente material, causarão tédio. Somente quando o Amor por trás de todos esses laços for suficientemente puro a ponto de esvaziar-se de todo desejo egoísta, somente então as relações serão satisfatórias, permanentes, reciprocamente benéficas. Não há amor verdadeiro, duradouro, em qualquer forma de parentesco no qual Deus não entre. Não há milagre de amor em nenhum casamento em que Deus não seja a pedra fundamental. Se conhecermos o amor de Deus, conheceremos o amor do homem.
O amor por Deus é rendição completa na união mística entre Pai e Filho. “Deus, tudo o que eu tenho é Teu, assim como o que Tu tens é meu, meu tempo, minhas mãos, minha vida estão a Teu serviço”. Se as pessoas experimentassem essa completa rendição a Deus tornando-se UM com Ele, ao sobrevir a época do casamento humano ambos passariam a manter uma genuína modalidade de relacionamento e as palavras da cerimônia nupcial tornar-se-iam realidade: os dois formariam UM.
O Lar é a expressão da consciência dos indivíduos que o habitam; é formado na atmosfera da consciência daqueles que o estabelecem. Há casa em que não há amor, nem ódio, pecado ou pureza, doença, nem saúde.
Se, porém os membros dessa casa permitem que suas consciências sejam invadidas por pensamentos de pecado, moléstias, limitações, carências, desconfianças ou temores, então a discórdia, a desarmonia, o empobrecimento nela reinarão. Por outro lado, se a consciência dos que a compõem exprimir amor, compreensão, tolerância, fé, esperança, esse lar se tornará santuário. Nele se edificará a visão da Nova Jerusalém; uma cidade sagrada, governada pelo amor. Verdade é que muitos podem levar todo o lar para o Reino doa Céus.
Pode acontece que sejamos bem sucedidos em converter nossa casa naquela “cidade sagrada”; podemos, contudo manter-nos resolutos na via da Cristificação de todas as pessoas que convivem, não exteriormente pregando com uma infinidade de palavras insignificantes, porém mantendo o “silêncio” de nossa integridade espiritual, e contribuindo para que nossa vida constitua um testemunho vivo da Verdade.
O Mestre assim procedeu com seus seguidores, abismando-se no silêncio do Seu próprio Ser e não hesitou em afastar-se das multidões que O oprimiam, para buscar Deus na solidão dos seus retiros. Nós também podemos fazer esses silenciosos períodos de renovação cedo, pela manhã, à tarde, à noite, de madrugada ou a intervalos durante o dia; estabelecendo breves pausas nas exigências da vida familiar e mundana.
Nossa realização da Verdade se exterioriza em harmonia e paz. Em nosso lar; o Verbo se fez carne. Se nesses períodos de silêncio, Deus não entrar em nossas relações com a família, todos os nossos esforços, todo o nosso trabalho para edificar o lar podem frustrar-se. A água material, o pão ou o vinho que passamos a dar aos membros da família, o serviço, não satisfazem; logo voltarão de novo a sentir fome e sede.
É somente em proporção do reconhecimento de nossa Cristificação, da nossa verdadeira identidade que membros do nosso lar serão capazes de receber “as águas vivas”. “Jamais terá sede aquele que beber da água que eu lhe der”.
Cumprindo nossa parte Deus cumpre a Sua, infundindo paz às consciências. Estando conscientemente certos de nossa união com Deus, dirigindo-nos ao “Pai em nós” como Fonte de todo o bem, nossas relações com os outros serão puras, completamente livres de qualquer coisa que eles tenham. Uma relação espiritual se manifesta como participação, cooperação, doação. É como presentear nossos filhos, irmãos ou amigos sem nenhum interesse de retorno, sem nenhuma razão; não porque eles mereçam, mas pela alegria de expressar amor.
Quando nossas relações se basearem, não no que ganhamos dos outros, mas no que jaz em nossos corações, para dar ou compartilhar com os outros, não somente dinheiro, mas todos bens da vida – cooperação, compreensão, confiança, perdão, ajuda – então e só então, aquelas relações serão permanentes, puro Espírito, verdadeiro oferecimento de nós mesmos. “Porque o Amor é Deus”.
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