“Eu vos digo que, a menos que vossa virtude seja maior que a dos escribas e dos fariseus, de modo algum entrareis no reino dos Céus” (Matheus 5:20)
No sermão da Montanha, Jesus faz uma clara distinção entre o ensinamento do Antigo Testamento, o caminho do “ouvistes o que foi dito aos antigos...” e o novo ensinamento do Novo Testamento de que “meu reino...” que não é deste mundo – algo diferente de ser meramente uma pessoa humanamente boa e vivendo um padrão de vida que considera dois poderes.
No Novo Ensinamento proclamado por Jesus havia um afastamento total dos velhos ensinamentos hebraicos: havia um padrão completamente novo que não tomava conhecimento de bem e de mal.
Podemos ter uma noção se estamos percebendo o “Meu reino”, observando nosso grau de reação diante do bem e do mal.
Quanta alegria há em nossa reação diante do bem, e quanto nos incomodamos com o mal? Em que medida nos tornamos indiferentes ao bem e ao mal humanos?
Há o reino espiritual, e o nele habitar nos tornará completamente imunes, mesmo às boas coisas da vida.
É só no começo da nossa jornada no caminho espiritual que pensamos que o intuito final é o de melhorar nossa experiência humana, que dobrando nossas receitas teremos uma boa demonstração, ou que termos um coração, fígado, pulmões que funcionam normalmente, ou até perfeitamente de acordo com os padrões humanos, possa representar uma demonstração espiritual e uma indicação de progresso nesse caminho.
A verdadeira demonstração que observaremos não será simplesmente um aumento monetário ou uma melhoria de saúde, por mais que sejam desejáveis, mas será um renascimento, uma percepção de que “o meu reino não é deste mundo”.
Se quisermos apenas ser humanamente felizes, saudáveis e prósperos, continuaremos a ser cristãos nominalmente, pois seguir à risca os ensinamentos do Cristo cobra um altíssimo preço, um modo de vida restrito e disciplinado.
É bem verdade que há, de fato, contentamentos interiores indescritíveis e uma paz interior além da imaginação, mas por um bom tempo haverá uma luta agitada da Alma com o pequeno demônio chamado “ego”, uma luta com o sentido pessoal de “eu” e de “meu”.
Somos em grande parte responsáveis pelo estado em que se encontra atualmente nossa vida, não tanto no sentido de termos cometido erros conscientes ou inconscientemente, ou transgressões ou mesmo ofensas voluntárias, e sim por causa de nossa ignorância da vida e de seus princípios, o que nos tornou presa fácil das crenças do mundo.
Tivéssemos sido corretamente orientados desde a infância, e tivéssemos nós tido o conhecimento da lei espiritual, teríamos aprendido a evitar muitas das discórdias em nossa experiência.
Certamente o volume de problemas que temos se deve à nossa ignorância da vida, e mesmo um pouco de nossa boa sorte pode ter vindo do que o mundo considera fortuna ou circunstância fortuita.
Desde nossos primeiros passos, a conveniência de ser uma pessoa empreendedora, de forte personalidade, dinâmica, que sabe o que quer e vai ao seu encalço, e a importância de obter, conseguir, têm sido impressas em nós. Contudo, essas qualidades podem ser responsáveis por diversos problemas nossos, uma vez que por meio desses traços aquisitivos teremos certamente violado a lei espiritual.
Não só o pão que lançamos às águas volta a nós, mas com bastante freqüência, dependendo de nossa esperteza e amiúde da falta de escrúpulos, manobramos para capturar algo que pertence a outrem e, fazendo isso, violamos a lei e a obrigamos a reagir contra nós.
Do mesmo modo, sempre que dobramos ou passamos alguém para trás mental ou fisicamente, ou o logramos sobre aquilo que seria do seu direito, nesse mesmo grau também violamos a lei espiritual.
Mesmo aquilo pelo qual tenhamos legal e legitimamente lutado será por vezes a única coisa a nos destruir porque, visto que somos infinitos e de acordo com os ensinamentos de Jesus temos tudo o que o Pai tem,qualquer tentativa de acrescentar algo ao infinito é por si só uma violação da lei de Deus.
Para estarmos espiritualmente sintonizados e viver de acordo com as leis de Deus, temos de começar por descobrir que tudo o que o Pai tem está incorporado em nós – o pão da vida, o vinho da inspiração -; o inteiro Reino está plantado dentro de nós.
Então, em vez de começar a vida com a ideia de ganhar, de conseguir ou de alcançar, teremos de reverter isso, e nossa atitude terá de ser a de servir, doar, conceder, repartir e cooperar.
Teremos de viver fora do nosso egoísmo, na confiança e certeza de que nosso contentamento está em repartir e cooperar. Em tal estado de consciência, nosso ter no plano humano seria o reflexo do repartir e doar.
Toda vez que houver algo ou alguém a ser ganho ou vencido, nome, fama ou fortuna, estaremos de fato a violar o principio espiritual da vida, que é doação.
Como filhos de Deus, Espírito de Deus feito carne, tudo o que o Pai é, nós somos, e tudo o que o Pai tem é nosso. Aceitar outro modo seria romper a relação de unicidade,como o fez o filho pródigo quando pensou e acreditou que aquilo que tinha fosse dele mesmo, embora lhe tivesse sido doado pelo Pai; viveu uma vida devassa, desperdiçando sua substância.
O mesmo se dá conosco, mesmo que comecemos a descobrir que Deus é a nossa sabedoria, nosso suprimento, nosso isso ou aquilo, para depois esquecermos de continuar a reconhecer nossa Fonte.
Em vez de ter gratidão, nós a usamos e reivindicamos como se fosse nossa mesmo, frequentemente desperdiçando e exaurindo o suprimento; ao reivindicarmos alguma coisa como nossa, nós nos excluímos da Fonte, e tal separação resulta em limitação.
Se compreendermos Deus como a Fonte e como nosso SER, não há nada que estejamos gastando – esforços, anos, saber, substância ou força vital, pois inicialmente não são nossos.
Tudo flui através de nós na medida em que o solicitamos à Fonte Infinita. Acreditar num suprimento limitado se parece bastante com medir o fornecimento de água de uma comunidade pela somatória dos fluxos dos tubos num certo instante, sem levar em conta que há um reservatório próximo, sempre reabastecido pela fonte inesgotável da chuva e da neve.
A convicção de que estamos usando nossa inteligência, nosso saber, nosso esforço, vitalidade e nossos anos vai ao encontro da crença ignorante de que somos alguma coisa por nós mesmos, e de que a duração de nossas vidas poder ser determinada ao usar os setenta anos geralmente aceitos como duração média.
Aprendemos desde o começo da lição que aquilo que Jesus nos deixou claro sobre nossa verdadeira relação com Deus é que não é nossa vida que está sendo vivida, mas a vida de Deus, não é nosso esforço que é usado,mas o Dele, não é nossa compreensão ou suprimento que são infinitos, mas os Dele, e que somos apenas instrumentos pelos quais Deus faz fluir Sua Vida para glorificar a si mesmo.
De há muitos descobrimos que é nossa função viver, não como seres humanos velhos e enfermos, mas como imagem e semelhança de Deus, manifestando Deus no nosso suprimento, no nosso esforço e saber diários.
Não será meritório para você ou para mim se vivermos ate cento e cinquenta anos com a aparência de cinquenta, na plena posse de todas as faculdades, juízo, inteligência, resistência e saúde. Será Deus glorificando a si mesmo por intermédio de você ou de mim, assim como glorifica a si mesmo por meio do sol, da lua e das estrelas.
"Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento manifesta a Sua Obra".
Nós não louvamos nem atribuímos mérito às estrelas por serem belas ou ao sol por ser luminoso e quente, ou à lua por refletir a luz. Se glorificarmos alguma coisa, devemos antes glorificar a Deus, que expressou a si mesmo de tal modo.
Assim sempre que mostrarmos adiantamento no caminho da harmonia espiritual, não teremos mérito por este motivo, perceberemos que Deus está manifestando Sua Obra por meio de nós, glorificando a si mesmo como nossa forma, saber e graça.
O Sermão da Montanha nos aponta claramente estes dois modos de vida: o caminho do ouvistes o que foi dito aos antigos.."- o caminho do obter, do conseguir, do lutar pela vida - e o caminho do "eu porém vos digo...", do deixar, do doar e do repousar na "minha paz".
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