segunda-feira, 27 de novembro de 2017

PATERNIDADE - JOEL GOLDSMITH








Poderia por favor falar algo sobre paternidade?

Resposta

Este é um assunto muito difícil para mim. Não tenho os sentimentos que a maioria dos pais tem por filhos. Não conheço esse tipo de sensação, então não posso falar a respeito. Amo crianças e elas me amam, mas não tem nada a ver com aquela emoção que normalmente os pais sentem por seus filhos ou os filhos por seus pais. É de uma natureza diferente.

Uma criança, para mim, é muito parecida com um botão, uma flor. É nova e fresca e tem infinitas potencialidades, e pode ser modelada. Não modelada por vontade. Com muita frequência é modelada de acordo com a vontade de seus pais, e às vezes de forma infeliz. Mas ela pode ser modelada de forma espiritual. Não sei se os pais conseguem fazer isso. Alguns conseguem porque eu já vi isso acontecer. Mas quantos conseguem, eu não sei porque muito do que vejo de paternidade é apenas emoção instintiva, e isso não permite que o pai seja objetivo ou veja seu filho espiritualmente.

Enxergar um filho espiritualmente significa perceber que ele não é seu filho, mas um filho de Deus, outra das infinitas formas e expressões de Deus, enviado à terra com todas as potencialidades de Deus. Se os pais puderem enxergar seus filhos dessa maneira, ajudaria a libertar o filho das limitações humanas. Como eu digo, não sei quão difícil isso poderia ser por não ter sido nunca pai. Mas conheci alguns pais que puderam enxergar os filhos dessa maneira – alguns poucos. Ser capaz de amar um filho dessa maneira é compreender que sua natureza se manifestou de Deus; que ele foi enviado a este plano de consciência não para ser filho de alguém, mas para ser um instrumento do bem na terra – tanto quanto foi Jesus Cristo, ou Moisés, ou Buda. Todo filho é essa potencialidade. Agora, compreender que um filho não está limitado mentalmente por seus pais, avós, ou bisavós, visto que é um descendente de Deus e sua mente é de Deus e a fonte de sua inteligência e sabedoria é de Deus, é libertar esse filho das limitações dos relacionamentos familiares.

Da mesma forma, ser capaz de educar um filho sem incutir medo – medo de atravessar a rua, medo de falar com um estranho, medo de nadar, medo de fazer isto ou aquilo – mas sim [educar um filho] com compreensão espiritual para libertá-lo em Deus; para elevar a paternidade a um nível diferenciado da paternidade humana normal. 

A paternidade humana é quase totalmente egoísta, e devemos nos elevar muito mais acima disso para sermos capazes de ver que somos cuidadores dos filhos; somos seus provedores até um tempo em que eles possam assumir essa responsabilidade. Somos seus guias, e ser capaz de fazer isso espiritualmente significa fazer isso através de uma comunhão interior com Deus. Não significa ser uma pessoa dominadora, determinando o que eles devem ou não devem fazer de acordo com nosso conhecimento. Ao invés disso, significa educá-los com um mínimo de discurso e conversa e mantê-los ao máximo em comunhão interior com o Espírito, permitindo que sejam governados por Deus ao invés de governados pelo homem.

Agora, não posso falar sobre paternidade humana porque ela se apresenta ao mundo de tantas maneiras diferentes, e eu me sinto da mesma forma em relação a ela de como me sinto em relação à paz mundial. Não acredito que [educar o filho espiritualmente] possa ser realizado humanamente. Não pode. Deve acontecer por meios espirituais. Não acredito que através de nossa natureza humana encontraremos uma forma de educar nossos filhos de modo a conduzi-los em sua legítima herança. Para nós, neste trabalho, a única forma que temos de criar os filhos, a única forma que temos de dar a eles sua liberdade, é dar a eles o Espírito de Deus; dar a eles oração; dar a eles comunhão; dar a eles convicção nesse relacionamento, e continuamente ensiná-los a natureza desses males do mundo de modo que ao reconhecê-los, não caiam em nenhuma tentação.

Conheci crianças que, aos dezesseis anos, quando foram solicitados a ir pegar aspirinas para uma visita disseram, “O que é aspirina? Nunca ouvi falar.” Elas nunca viram uma propaganda de aspirina. Não chegou à consciência delas. Elas foram tão educadas na vida espiritual que elas nem conheceriam o propósito de uma aspirina ou qualquer outra forma de remédio. Eu vi isso. Eu testemunhei vezes e mais vezes famílias que seguiram por quinze, dezoito e vinte anos sem saber nada sobre a natureza de doenças sérias ou acidentes ou qualquer coisa desse tipo, simplesmente porque os pais mantinham aquele lar na percepção espiritual.

Pode ser feito. Pode ser feito da mesma maneira que um praticante pode manter seus pacientes – sejam vinte, ou cinquenta ou cem – de forma que eles sejam quase imunes das discórdias do mundo. Um professor pode manter um grupo inteiro de estudantes relativamente livre por longos períodos de tempo, sobretudo se esses estudantes estão cooperando. Por que? A consciência mais alta levanta a consciência mais baixa ao seu patamar. “E, quando eu for levantado da terra, atrairei todas as pessoas para mim. (João 12:32)“. Conforme sou elevado nesta consciência, conhecendo a natureza de Deus e a natureza do erro, e permanecendo nesta consciência de Deus, todos, ou a maioria daqueles que permanecem comigo se elevam em certa medida de demonstração para uma saúde melhor, maior suprimento e melhores relacionamentos humanos.

[Trecho do livro The Foundation of Mysticism (A Base do Misticismo), Capítulo 16, página 296-299; localização Kindle 4056]








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