Quando crianças, tínhamos um certo jogo: traçávamos, com giz, diversos quadrados na calçada; o parceiro nos tocava para dentro de um desses quadrinhos de giz, e dele não podia sair o prisioneiro enquanto não pagasse determinado preço de resgate. Por que não podia sair o preso de sua prisão? Quem o prendia lá dentro? Um traço branco de giz – e nada mais. Mas as regras do jogo o obrigavam a se julgar preso – e por isso estava preso.
Isto é divertido enquanto não passa de simples jogo.
Mas seria trágico se as outras crianças fossem para casa, e o preso se julgasse impossibilitado de sair do seu cárcere, por causa daquele traço de giz. Para se libertar, bastaria cruzar o traço.
O divino Mestre, no tempo de sua peregrinação terrestre, encontrou numerosos homens que estavam presos por um simples traço de giz; lá estavam os aleijados, os doentes de toda espécie, à beira das estradas, à entrada do templo; Jesus os olhava e dizia: “Queres ser curado?... levanta-te, tome o teu leito e vai para casa!”. E eles se levantam e andavam. Nada os impedia de andarem; tinham apenas obedecido a uma certa regra da vida humana, que estabelece que, em certas circunstâncias ou com certa idade, deve o homem ficar doente – e eles haviam aceitado essa regra como obrigatória. Jesus via o traço de giz que os prendia – e eles, certos de que nada os prendia, levantavam-se e iam embora. A Lázaro disse ele: “Lázaro, vem para fora” – e Lázaro veio para fora. Que é que o impedia? As regras do jogo da vida humana.
E, destarte, continuarão os homens a sofrer, até que apareça alguém e veja que as leis do pecado, da doença, da pobreza, são apenas traços de giz; e lhes diga, em virtude da sua visão espiritual: “Qual era o teu impedimento?”
Disse o divino Mestre que todos nós devíamos tornar-nos como crianças a fim de podermos abraçar a verdade. Muitas vezes a razão para curas retardadas é a incapacidade do curador de ser assaz infantil para enxergar uma simples linha de giz, onde os outros vêem indícios de morte ou estatuem certo período para o término da doença.
E, quando se trata de um mal incurável, os homens enxergam três traços de giz, em vez de enxergarem um só, e estão mais firmemente presos no seu cárcere do que nunca. Imaginem, um “mal incurável”! E que coisa pior poderia haver? Entretanto, é fato que a cura espiritual tem, muitas vezes, mais resultados com esses “males incuráveis” do que com “males curáveis”. A razão é esta: quando o médico desengana o doente, e diz que fez tudo que pôde, e nada conseguiu – então o paciente perde a esperança nos recursos da medicina, e esta falta de esperança o torna mais receptivo para os impulsos espirituais.
Somente os traços brancos de giz – tempo, diagnóstico, sintomas e outros indícios – te podem fazer crer que és um prisioneiro de doença e culpa. A única coisa necessária para a tua libertação é saltares por cima do traço de giz. E por que não? Que é que te impede? Uma crença? Uma teoria? No momento em que vejas nisto uma simples crença, uma simples teoria, apagam-se os traços brancos do teu cárcere – e estás livre.
Quando Pedro estava preso no cárcere, havia três ferrolhos que o fechavam na prisão, e era aparentemente impossível abrir caminho para a liberdade. Então apareceu um anjo do Senhor – e deu-se o prodígio! Pedro estava do lado de fora, mas os ferrolhos e outras fechaduras estavam ainda no mesmo lugar onde se achavam antes...
O profeta Ezequiel, em face da prepotência inimiga, bradou a seu povo, no momento da luta: “Eles confiam em braços de carne – nós, porém, confiamos em Deus nosso Senhor, que nos ampara na luta!” Tens algum problema de caráter físico, espiritual, moral ou econômico? Dize a ti mesmo: “Isto é apenas um braço de carne, que tenta convencer-me de que nele resida um poder – mas esse poder não existe em um braço carnal”.
Faze a soma de todos os erros – pecado, doença, infecção, contágio, morte, pobreza, limitações, tempo, clima – e liberta-te de todos de uma só vez, considerando-os todos como um “braço carnal”, que não vale a pena combater. Só então poderás começar a cura, antes não. Aproximar-te-ás do Reino de Deus quando Deus se tornar para ti Tudo-em-Tudo e se cada problema da tua vida te parecer um “braço carnal”, um traço de giz no chão, nenhum impedimento real, um simples Nada – porque chegaste à experiência de que a natureza de Deus é realidade infinita, onipresente, onisciente, inesgotável sabedoria e amor.
É muito interessante entender isto intelectualmente; fazer viver isto em pensamentos é muito divertido. Mas eis que, um dia defrontamos com algo que nos diz, face a face: “Eu sou um aleijado... Eu sou um mendigo... Eu sou gripe... Eu sou câncer, tuberculose, desemprego, pobreza, deficiência...” E um tremor nos percorre o corpo todo. E verificamos que só vivíamos em palavras, e nada sabíamos da experiência da realidade. Temos de enfrentar o inimigo com atos reais. Encara-o bem de frente, para verificar se, porventura, não se trata de um traço de giz, ou de um “braço carnal”; e, sabendo isto, chegarás à inabalável convicção: “Eu, o Deus em mim, é Tudo-em-Tudo; Tu, lá fora, não és nada senão um traço branco de giz, um pobre ‘braço carnal’...”
Imaginemos um terrível pesadelo. Sonhamos estar nadando no mar. Afastamo-nos demais do litoral, perdemos de vista a praia. Começamos a ir a pique. Gritamos por socorro com todas as nossas forças, mas ninguém nos ouve. E, quanto mais lutamos com as ondas, mais nos afundamos. Só nos resta perecermos afogados. Mas eis que de repente o nadador agonizante se sente empolgado por uma mão vigorosa que o sacode. E dá-se o grande prodígio... Desaparece o mar... cessa a luta... O agonizante acorda – e está deitado comodamente em sua cama, lá em casa!... A única coisa que foi necessária para se libertar da luta e da morte foi apenas isto – acordar...
É esta a quintessência da cura pelo espírito – acordar! Seja qual for a tua luta – contra doença, contra pobreza, contra desemprego, contra tristeza, contra pecado – deixa de lutar e acorda! Torna-te consciente da tua verdadeira unidade com o Infinito. Não és nenhum nadador em casto mar; não és vítima de culpa e doença; tu és a consciência do Cristo, tu és um filho de Deus; o erro contra o qual lutas é precisamente este que perpetua a luta.
Não há motivo algum para lutar. Relaxa, solta os teus nervos e compreende que não há nada em todo o Universo se não Deus somente, esse Deus que se manifesta na forma de um tu, na forma de um eu; O Eu divino, uno e indivisível, aparece individualizado em ti, em mim. “Vós sois deuses”... O teu destino é harmonia divina; é o destino de todo homem individual, sadio ou doente, santo ou pecador. O supremo destino de cada um de nós é a harmonia divina – quando acordados. “Saturar-me-ei com tua imagem, quando acordar.”
Quando o homem começa a compreender o sentido desse acordar, então percebe que as ilusões deste mundo – pecado e doenças, limitações e deficiências – não são coisas realmente existentes no mundo de Deus, mas tão-somente miragens e idéias creadas pela mente humana. Esta circunstância, de serem apenas criações nossas, não torna esses males menos dolorosos e ingratos, mas agora existe a possibilidade de nos libertarmos deles. O que foi criado por nós pode ser por nós abolido. A cura pelo espírito é impossível enquanto mantivermos a convicção de que os males sejam realidades existentes no mundo de Deus. Conhecer o seu verdadeiro caráter é ser curado desses males.
Quem se ocupou com a doutrina metafísica teve de aprender que a natureza do pecado e das doenças é pura ilusão, é “mente mortal”, é um “nada”. Mas para a maior parte dos estudiosos dessa doutrina, a ilusão, a mente mortal, o nada, continua a ser algo que deva ser curado, de algo que o homem deva se libertar. Uma vez que reconhecemos esse algo como inexistente, quando sabemos que o fantasma acocorado em um canto não existe lá fora, mas apenas em nossa mente, seria ridículo exigir de nós que expulsássemos o fantasma.
Uma vez sabendo que aquilo que Jesus chamava “este mundo” – isto é, a concepção/idéia material do mundo – é na realidade pura ilusão, então também compreendemos porque o Mestre podia afirmar “eu venci o mundo”. Venceu o mundo pelo conhecimento de que este mundo é uma miragem creada pela nossa mente. E, se nós quisermos vencer este mundo, só o poderemos fazer do mesmo modo: pela vitória da verdade sobre o erro, pelo triunfo da realidade sobre a ilusão. Não são os sentidos que se iludem, mas a nossa mente, que constrói juízos errôneos sobre aquilo que os sentidos nos apresentam. Todas as desarmonias que há neste mundo são produtos da mente falaz.
Este estado de percepção imperfeita da realidade e do eterno, não raro, é designado nos livros de autorrealização, como estado hipnótico. Qualquer pessoa que tenha observado como a massa ou uma nação reage à propaganda ou publicidade, sabe como funciona a hipnose das massas, quando as respectivas cobaias se sentem sob pressão e coação desses fatores. Nesses casos, não há nenhum hipnotizador individual, como não existe uma determinada cobaia visada pela propaganda, mas o efeito não deixa de ser hipnótico, supondo que haja alguém que possua suficiente receptividade sugestiva, devido à falta de vontade própria. As vítimas desse impacto nada têm que ver com os processos da propaganda, o que não impedem de caírem vítimas da hipnose coletiva. O indivíduo humano aparece no mundo já hipnotizado até certo ponto, porque o simples fato de nascer entre homens o predispõe ao impacto hipnótico, uma vez que todas as pessoas do seu meio consideram o mundo material como realmente existente – e assim sucumbe também ele a essa fascinação universal. É esse ambiente coletivo da humanidade que atua sobre uns como doença, sobre outros como concupiscência, sobre outros como pobreza ou como outro mal. É essa hipnotização universal que o indivíduo sucumbe, em virtude de sua receptividade, que já lhe vem do seio materno.
A conseqüência dessa sugestividade se revela, depois, pelo fato de aceitarmos os males desta vida – doenças, morte, limitações, deficiências, desemprego, inflação, guerras, acidentes, etc. – como coisas inevitáveis. Ponhamos o machado à raiz da árvore, e não percamos o tempo em cortar apenas uns galhos! Não tentemos curar aqui um pedacinho de carne, e medicar acolá um fragmento dos nossos desejos desregrados. Compreendamos que a terapia espiritual não está interessada em curar uma pessoa ou um estado mórbido particular – ela se vê em face de uma hipnose coletiva.
Ultimamente, se tornou popular a expressão “percepção subliminar”. Verificou-se que muitos homens reagem a influências que lhes são totalmente inconscientes. Assim, por exemplo, foi projetado na tela de um cinema um convite aos assistentes para comprarem pipocas e coca-cola, no intervalo da exibição, mas com tanta velocidade que ninguém pôde perceber coisa alguma na tela. Embora invisível aos olhos, esse convite produziu efeito inesperado no subconsciente, tanto assim, que, logo depois uma grande multidão foi adquirir pipocas e coca-cola, que talvez nem apetecessem na zona do seu consciente. Nenhum convite lhes fora feito conscientemente; de nenhum reclamo tinham eles noção; não obedeceram a nenhum convite conhecido – agiram em conseqüência de uma sugestão de que nada sabiam. Se esse convite lhes fosse feito na zona de seu consciente, poderiam ter resolvido pró ou contra, se iam ou não iam comprar essas coisas; mas agiram como autômatos inconscientes.
Uma vez conhecido o modo como opera esse hipnotismo, sabe-se porque todo homem cai vítima dos males deste mundo, até que compreenda a natureza desses erros. Aquele público no cinema poderia, da mesma forma, ser sugestionado inconscientemente “Tens um resfriado”, ou “Estás com câncer”, ou “Estás com medo” – eles seriam afetados por esses males. Sabemos que tal coisa acontece; por vezes nos sentimos tomados de temores e angústias, sem saber como nem por quê. Se tivéssemos lido as manchetes dos jornais ou escutado o rádio, provavelmente teríamos sabido da ocorrência de uma catástrofe. A nossa angústia era o reflexo de uma hipnose coletiva. A fonte não éramos nós, mas sim a massa, era aquele estado universal que se transferiu de pessoas a pessoas, de lugar a lugar, de situação a situação – até nos empolgar e fazer-nos vítima do ambiente geral.
Esta nossa idéia diferencia-se totalmente da doutrina que subjaz geralmente às tradicionais curas espirituais, tanto à moderna organização da ciência mental, como também à psicologia e psiquiatria, que partem, todas elas, da tese de que no consciente do homem se aninhou algum erro; se fosse possível erradicar esse erro pessoal, seguir-se-ia a cura – de câncer, tuberculose, artrite, ou outro mal, seja ele qual for – porque todos esses males são atribuídos a uma disposição negativa do próprio doente. Muitos curadores perscrutam a mente humana a fim de “desmascararem o erro” e mostrar ao paciente que suas dificuldade provêm dos seus ciúmes, da sua sensualidade, da sua ganância, da sua malícia ou do seu ódio. Parece que muitos problemas, de fato, nascem dessas disposições negativas. Mas, no plano da vida humana, enquanto alguém vive neste mundo, todo homem participa necessariamente da consciência do mundo, aceitando ingênua e inconscientemente, o modo de pensar e agir dessa consciência geral.
Provavelmente, já te disseram que não terias estas ou aquelas dificuldades se tivesses sido um pouco mais atencioso para com fulano ou sicrano, se tivesses sido mais liberal ou mais agradecido para com os teus parentes; que, se quiseres ser curado, importa que sejas conciliador, amigável, bondoso, paciente ou generoso para com os outros. Isto é psicologia, é ciência mental, segundo as quais a enfermidade corporal ou mental é atribuída geralmente a uma causa psíquica.
Além disto, costumam os curadores mentais focalizar o paciente. Por vezes o nome do doente e a espécie da doença são mencionados. “Maria Isabel de Tal, tu és filha de Deus; tu estás de perfeita saúde; tu és espiritual, tu o sabes, Maria Isabel de Tal; tu és isto, tu és aquilo”. É este o modo como se processa a cura de um doente, embora a verdade seja esta que, Maria Isabel, essa criatura humana, não é nada de tudo isto. Tudo quanto este praticante mental sabe de Deus e à sua imagem e semelhança é projetado para dentro de Maria Isabel, como se ela fosse tudo isto. Martelando para dentro dela estas coisas, e afirmando-lhe que ela já é espiritual e perfeita, espera o curador da ciência mental realizar nela a sua mentalização.
Isto é divertido enquanto não passa de simples jogo.
Mas seria trágico se as outras crianças fossem para casa, e o preso se julgasse impossibilitado de sair do seu cárcere, por causa daquele traço de giz. Para se libertar, bastaria cruzar o traço.
O divino Mestre, no tempo de sua peregrinação terrestre, encontrou numerosos homens que estavam presos por um simples traço de giz; lá estavam os aleijados, os doentes de toda espécie, à beira das estradas, à entrada do templo; Jesus os olhava e dizia: “Queres ser curado?... levanta-te, tome o teu leito e vai para casa!”. E eles se levantam e andavam. Nada os impedia de andarem; tinham apenas obedecido a uma certa regra da vida humana, que estabelece que, em certas circunstâncias ou com certa idade, deve o homem ficar doente – e eles haviam aceitado essa regra como obrigatória. Jesus via o traço de giz que os prendia – e eles, certos de que nada os prendia, levantavam-se e iam embora. A Lázaro disse ele: “Lázaro, vem para fora” – e Lázaro veio para fora. Que é que o impedia? As regras do jogo da vida humana.
E, destarte, continuarão os homens a sofrer, até que apareça alguém e veja que as leis do pecado, da doença, da pobreza, são apenas traços de giz; e lhes diga, em virtude da sua visão espiritual: “Qual era o teu impedimento?”
Disse o divino Mestre que todos nós devíamos tornar-nos como crianças a fim de podermos abraçar a verdade. Muitas vezes a razão para curas retardadas é a incapacidade do curador de ser assaz infantil para enxergar uma simples linha de giz, onde os outros vêem indícios de morte ou estatuem certo período para o término da doença.
E, quando se trata de um mal incurável, os homens enxergam três traços de giz, em vez de enxergarem um só, e estão mais firmemente presos no seu cárcere do que nunca. Imaginem, um “mal incurável”! E que coisa pior poderia haver? Entretanto, é fato que a cura espiritual tem, muitas vezes, mais resultados com esses “males incuráveis” do que com “males curáveis”. A razão é esta: quando o médico desengana o doente, e diz que fez tudo que pôde, e nada conseguiu – então o paciente perde a esperança nos recursos da medicina, e esta falta de esperança o torna mais receptivo para os impulsos espirituais.
Somente os traços brancos de giz – tempo, diagnóstico, sintomas e outros indícios – te podem fazer crer que és um prisioneiro de doença e culpa. A única coisa necessária para a tua libertação é saltares por cima do traço de giz. E por que não? Que é que te impede? Uma crença? Uma teoria? No momento em que vejas nisto uma simples crença, uma simples teoria, apagam-se os traços brancos do teu cárcere – e estás livre.
Quando Pedro estava preso no cárcere, havia três ferrolhos que o fechavam na prisão, e era aparentemente impossível abrir caminho para a liberdade. Então apareceu um anjo do Senhor – e deu-se o prodígio! Pedro estava do lado de fora, mas os ferrolhos e outras fechaduras estavam ainda no mesmo lugar onde se achavam antes...
O profeta Ezequiel, em face da prepotência inimiga, bradou a seu povo, no momento da luta: “Eles confiam em braços de carne – nós, porém, confiamos em Deus nosso Senhor, que nos ampara na luta!” Tens algum problema de caráter físico, espiritual, moral ou econômico? Dize a ti mesmo: “Isto é apenas um braço de carne, que tenta convencer-me de que nele resida um poder – mas esse poder não existe em um braço carnal”.
Faze a soma de todos os erros – pecado, doença, infecção, contágio, morte, pobreza, limitações, tempo, clima – e liberta-te de todos de uma só vez, considerando-os todos como um “braço carnal”, que não vale a pena combater. Só então poderás começar a cura, antes não. Aproximar-te-ás do Reino de Deus quando Deus se tornar para ti Tudo-em-Tudo e se cada problema da tua vida te parecer um “braço carnal”, um traço de giz no chão, nenhum impedimento real, um simples Nada – porque chegaste à experiência de que a natureza de Deus é realidade infinita, onipresente, onisciente, inesgotável sabedoria e amor.
É muito interessante entender isto intelectualmente; fazer viver isto em pensamentos é muito divertido. Mas eis que, um dia defrontamos com algo que nos diz, face a face: “Eu sou um aleijado... Eu sou um mendigo... Eu sou gripe... Eu sou câncer, tuberculose, desemprego, pobreza, deficiência...” E um tremor nos percorre o corpo todo. E verificamos que só vivíamos em palavras, e nada sabíamos da experiência da realidade. Temos de enfrentar o inimigo com atos reais. Encara-o bem de frente, para verificar se, porventura, não se trata de um traço de giz, ou de um “braço carnal”; e, sabendo isto, chegarás à inabalável convicção: “Eu, o Deus em mim, é Tudo-em-Tudo; Tu, lá fora, não és nada senão um traço branco de giz, um pobre ‘braço carnal’...”
Imaginemos um terrível pesadelo. Sonhamos estar nadando no mar. Afastamo-nos demais do litoral, perdemos de vista a praia. Começamos a ir a pique. Gritamos por socorro com todas as nossas forças, mas ninguém nos ouve. E, quanto mais lutamos com as ondas, mais nos afundamos. Só nos resta perecermos afogados. Mas eis que de repente o nadador agonizante se sente empolgado por uma mão vigorosa que o sacode. E dá-se o grande prodígio... Desaparece o mar... cessa a luta... O agonizante acorda – e está deitado comodamente em sua cama, lá em casa!... A única coisa que foi necessária para se libertar da luta e da morte foi apenas isto – acordar...
É esta a quintessência da cura pelo espírito – acordar! Seja qual for a tua luta – contra doença, contra pobreza, contra desemprego, contra tristeza, contra pecado – deixa de lutar e acorda! Torna-te consciente da tua verdadeira unidade com o Infinito. Não és nenhum nadador em casto mar; não és vítima de culpa e doença; tu és a consciência do Cristo, tu és um filho de Deus; o erro contra o qual lutas é precisamente este que perpetua a luta.
Não há motivo algum para lutar. Relaxa, solta os teus nervos e compreende que não há nada em todo o Universo se não Deus somente, esse Deus que se manifesta na forma de um tu, na forma de um eu; O Eu divino, uno e indivisível, aparece individualizado em ti, em mim. “Vós sois deuses”... O teu destino é harmonia divina; é o destino de todo homem individual, sadio ou doente, santo ou pecador. O supremo destino de cada um de nós é a harmonia divina – quando acordados. “Saturar-me-ei com tua imagem, quando acordar.”
Quando o homem começa a compreender o sentido desse acordar, então percebe que as ilusões deste mundo – pecado e doenças, limitações e deficiências – não são coisas realmente existentes no mundo de Deus, mas tão-somente miragens e idéias creadas pela mente humana. Esta circunstância, de serem apenas criações nossas, não torna esses males menos dolorosos e ingratos, mas agora existe a possibilidade de nos libertarmos deles. O que foi criado por nós pode ser por nós abolido. A cura pelo espírito é impossível enquanto mantivermos a convicção de que os males sejam realidades existentes no mundo de Deus. Conhecer o seu verdadeiro caráter é ser curado desses males.
Quem se ocupou com a doutrina metafísica teve de aprender que a natureza do pecado e das doenças é pura ilusão, é “mente mortal”, é um “nada”. Mas para a maior parte dos estudiosos dessa doutrina, a ilusão, a mente mortal, o nada, continua a ser algo que deva ser curado, de algo que o homem deva se libertar. Uma vez que reconhecemos esse algo como inexistente, quando sabemos que o fantasma acocorado em um canto não existe lá fora, mas apenas em nossa mente, seria ridículo exigir de nós que expulsássemos o fantasma.
Uma vez sabendo que aquilo que Jesus chamava “este mundo” – isto é, a concepção/idéia material do mundo – é na realidade pura ilusão, então também compreendemos porque o Mestre podia afirmar “eu venci o mundo”. Venceu o mundo pelo conhecimento de que este mundo é uma miragem creada pela nossa mente. E, se nós quisermos vencer este mundo, só o poderemos fazer do mesmo modo: pela vitória da verdade sobre o erro, pelo triunfo da realidade sobre a ilusão. Não são os sentidos que se iludem, mas a nossa mente, que constrói juízos errôneos sobre aquilo que os sentidos nos apresentam. Todas as desarmonias que há neste mundo são produtos da mente falaz.
Este estado de percepção imperfeita da realidade e do eterno, não raro, é designado nos livros de autorrealização, como estado hipnótico. Qualquer pessoa que tenha observado como a massa ou uma nação reage à propaganda ou publicidade, sabe como funciona a hipnose das massas, quando as respectivas cobaias se sentem sob pressão e coação desses fatores. Nesses casos, não há nenhum hipnotizador individual, como não existe uma determinada cobaia visada pela propaganda, mas o efeito não deixa de ser hipnótico, supondo que haja alguém que possua suficiente receptividade sugestiva, devido à falta de vontade própria. As vítimas desse impacto nada têm que ver com os processos da propaganda, o que não impedem de caírem vítimas da hipnose coletiva. O indivíduo humano aparece no mundo já hipnotizado até certo ponto, porque o simples fato de nascer entre homens o predispõe ao impacto hipnótico, uma vez que todas as pessoas do seu meio consideram o mundo material como realmente existente – e assim sucumbe também ele a essa fascinação universal. É esse ambiente coletivo da humanidade que atua sobre uns como doença, sobre outros como concupiscência, sobre outros como pobreza ou como outro mal. É essa hipnotização universal que o indivíduo sucumbe, em virtude de sua receptividade, que já lhe vem do seio materno.
A conseqüência dessa sugestividade se revela, depois, pelo fato de aceitarmos os males desta vida – doenças, morte, limitações, deficiências, desemprego, inflação, guerras, acidentes, etc. – como coisas inevitáveis. Ponhamos o machado à raiz da árvore, e não percamos o tempo em cortar apenas uns galhos! Não tentemos curar aqui um pedacinho de carne, e medicar acolá um fragmento dos nossos desejos desregrados. Compreendamos que a terapia espiritual não está interessada em curar uma pessoa ou um estado mórbido particular – ela se vê em face de uma hipnose coletiva.
Ultimamente, se tornou popular a expressão “percepção subliminar”. Verificou-se que muitos homens reagem a influências que lhes são totalmente inconscientes. Assim, por exemplo, foi projetado na tela de um cinema um convite aos assistentes para comprarem pipocas e coca-cola, no intervalo da exibição, mas com tanta velocidade que ninguém pôde perceber coisa alguma na tela. Embora invisível aos olhos, esse convite produziu efeito inesperado no subconsciente, tanto assim, que, logo depois uma grande multidão foi adquirir pipocas e coca-cola, que talvez nem apetecessem na zona do seu consciente. Nenhum convite lhes fora feito conscientemente; de nenhum reclamo tinham eles noção; não obedeceram a nenhum convite conhecido – agiram em conseqüência de uma sugestão de que nada sabiam. Se esse convite lhes fosse feito na zona de seu consciente, poderiam ter resolvido pró ou contra, se iam ou não iam comprar essas coisas; mas agiram como autômatos inconscientes.
Uma vez conhecido o modo como opera esse hipnotismo, sabe-se porque todo homem cai vítima dos males deste mundo, até que compreenda a natureza desses erros. Aquele público no cinema poderia, da mesma forma, ser sugestionado inconscientemente “Tens um resfriado”, ou “Estás com câncer”, ou “Estás com medo” – eles seriam afetados por esses males. Sabemos que tal coisa acontece; por vezes nos sentimos tomados de temores e angústias, sem saber como nem por quê. Se tivéssemos lido as manchetes dos jornais ou escutado o rádio, provavelmente teríamos sabido da ocorrência de uma catástrofe. A nossa angústia era o reflexo de uma hipnose coletiva. A fonte não éramos nós, mas sim a massa, era aquele estado universal que se transferiu de pessoas a pessoas, de lugar a lugar, de situação a situação – até nos empolgar e fazer-nos vítima do ambiente geral.
Esta nossa idéia diferencia-se totalmente da doutrina que subjaz geralmente às tradicionais curas espirituais, tanto à moderna organização da ciência mental, como também à psicologia e psiquiatria, que partem, todas elas, da tese de que no consciente do homem se aninhou algum erro; se fosse possível erradicar esse erro pessoal, seguir-se-ia a cura – de câncer, tuberculose, artrite, ou outro mal, seja ele qual for – porque todos esses males são atribuídos a uma disposição negativa do próprio doente. Muitos curadores perscrutam a mente humana a fim de “desmascararem o erro” e mostrar ao paciente que suas dificuldade provêm dos seus ciúmes, da sua sensualidade, da sua ganância, da sua malícia ou do seu ódio. Parece que muitos problemas, de fato, nascem dessas disposições negativas. Mas, no plano da vida humana, enquanto alguém vive neste mundo, todo homem participa necessariamente da consciência do mundo, aceitando ingênua e inconscientemente, o modo de pensar e agir dessa consciência geral.
Provavelmente, já te disseram que não terias estas ou aquelas dificuldades se tivesses sido um pouco mais atencioso para com fulano ou sicrano, se tivesses sido mais liberal ou mais agradecido para com os teus parentes; que, se quiseres ser curado, importa que sejas conciliador, amigável, bondoso, paciente ou generoso para com os outros. Isto é psicologia, é ciência mental, segundo as quais a enfermidade corporal ou mental é atribuída geralmente a uma causa psíquica.
Além disto, costumam os curadores mentais focalizar o paciente. Por vezes o nome do doente e a espécie da doença são mencionados. “Maria Isabel de Tal, tu és filha de Deus; tu estás de perfeita saúde; tu és espiritual, tu o sabes, Maria Isabel de Tal; tu és isto, tu és aquilo”. É este o modo como se processa a cura de um doente, embora a verdade seja esta que, Maria Isabel, essa criatura humana, não é nada de tudo isto. Tudo quanto este praticante mental sabe de Deus e à sua imagem e semelhança é projetado para dentro de Maria Isabel, como se ela fosse tudo isto. Martelando para dentro dela estas coisas, e afirmando-lhe que ela já é espiritual e perfeita, espera o curador da ciência mental realizar nela a sua mentalização.
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