O Abre-te Sésamo
“Olha para Sião, a cidade das nossas solenidades: os teus olhos verão a Jerusalém, habitação quieta, tenda que não será derrubada, cujas estacas nunca serão arrancadas, e das suas cordas nenhuma se quebrará... E morador algum dirá: Enfermo estou; porque o povo que habitar nela será absolvido da sua iniqüidade”. (Isaías 33:20-24)
Os males são perdoados para aqueles que habitarem na consciência de um Espírito todo-poderoso, perdoados no sentido de serem apagados e esquecidos. Em outras palavras, o restabelecimento, de fato, significa ser perdoado. Ser curado de nossos males é realmente ser perdoado do pecado de dualidade, perdoado do pecado de crer que há duas forças e que Deus não é força todo-poderosa. Estamos sendo realmente perdoados da aceitação da crença de que há uma outra força que não a divina. O modo de sentir esse restabelecimento é deixar de combater às circunstâncias, parar de temer o “homem cujo fôlego está no seu nariz”, parar de temer o orgulhoso, o fanfarrão, parar de temer o ruído das armas. Eles se destinam apenas a amedrontar-nos, mas não podemos nos preocupar, se tivermos um Deus todo-poderoso.
Como é possível a um povo, amante de Deus, constantemente temer o ateísmo ou qualquer obra dele? O ateísmo não é uma força. Não adianta simular que há um Deus em quem acreditamos, se acreditamos também que o ateísmo é uma força.
Ninguém nunca tem chance de derrotar a Deus ou ao religioso. Nós moraremos em habitação quietas e pacíficas, quando aprendemos, como disse Ralph Waldo Emerson, que os dados de Deus estão sempre chumbados. Ninguém tem chance contra Deus, contra o Espírito, contra o amor, a liberdade e a justiça. Ninguém tem chance contra o disposto espiritualmente. Mesmo a doença não pode deitar raízes no espiritualmente disposto. Ela pode aproximar-se dele e ameaçá-lo, mas tudo o que precisa fazer é estar atento e compreender que: “Nós temos o Senhor Deus Todo-poderoso”, virar-se e ir dormir, deixar que haja luz, deixar que haja liberdade, deixar que seja revelado na Terra que Deus existe. Então, mesmo o irreligioso observará as palavras de Deus e verá que Deus, e só Deus, é poderoso.
Entre nós, Deus já sabe o que deve ser feito e é Seu grande prazer dar-nos o reino, dar-nos a liberdade, dar-nos a alegria, dar-nos abundância. Dar, dar! A palavra é sempre “dar”, mas temos que ficar bastante quietos e confiantes para receber.
Uma vez que tenhamos tal vislumbre de Deus, teremos captado o significado do poder espiritual. Deixemo-lo ser nossa contra-senha, nosso “abre-te sésamo”. Deixemo-lo ser o que abre todas as portas para nós – poder espiritual. Não tentemos obtê-lo; não tentemos fazer uso dele. Não tentemos empregá-lo: apenas compreendemos e relaxamos a tensão nele. Não estamos resistindo ao mal; todavia, o mal desaparecerá. Ele se dissolverá. De um modo normal, natural, a harmonia começará a existir.
A CONQUISTA DO MUNDO
O tipo de hostilidade que poderia envolver o mundo hoje, nunca poderia resultar em vitória para ninguém. Portanto, ninguém em seu juízo perfeito vai dar início a quaisquer conflitos que nos ameacem. A proteção necessária não são mais ou melhores bombas. Eu não sou um pacifista e não estou tentando impedir ninguém de fabricar bombas. Mas o mundo só será salvo pelo poder espiritual, e ele vem apenas através da consciência dos indivíduos. Sempre houve poder espiritual, mas até que chegasse através de um Moisés, de um Elias, de um Jesus, de um Paulo ou de alguém mais que alcançasse essa compreensão, não ficaria em evidência.
O poder espiritual governará esta terra através de nossa consciência individual (ela deverá ser o canal), na medida em que não temermos o erro nem empregarmos o poder espiritual contra ele, mas somente manifestando “o poder espiritual” dentro de nós mesmos.
Algum dia teremos um corpo de pessoas deste mundo tocado pelo Espírito. Eles se encontrarão e haverá paz. A paz virá pela atividade do Espírito que está agora a circular pelo mundo, tocando pessoas de todos os países. Os que foram tocados pelo Espírito estão auxiliando e podem auxiliar mais a despertar a humanidade para esse toque do Espírito por suas orações, pelo desempenho das ações de Graça – absolvição, oração para o inimigo – mas, acima de tudo, pela compreensão do Messias. O Messias ensinou: “O meu reino não é deste mundo”. “Mete no teu lugar a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada à espada morrerão”.
A maior parte das pessoas pensa em Deus como um Rei absoluto. Elas até cantam hinos em louvor do Rei absoluto, o Rei que sai à frente delas para matar os inimigos, o Rei que conquista as terras para elas. O resultado é que, quando os conquistadores saem com suas armadas, há sempre um sacerdote ou um padre para abençoá-lo, como se Deus sancionasse ou pudesse abençoar o conquistador de outros povos. Exércitos e armadas saem para matar, e sempre se pode encontrar alguém para fazer uma oração para eles.
Tudo isso baseia-se nos errôneos ensinamentos dos antigos hebreus de que Deus é um Rei todo-poderoso e que Sua atividade é providenciar para que nossos inimigos sejam mortos e para que sejamos vitoriosos. Devemos ser sempre vitoriosos, o que seria verdadeiro se apenas pudéssemos ser vitoriosos como o Mestre ensinou: “Eu venci o Mundo”. Ele não venceu o mundo de César, nem o mundo exterior. O que ele realmente quis dizer foi: “Eu venci o mundo dentro de mim; eu venci a avidez, a luxúria, a ambição louca; eu venci a sensualidade, os falsos desejos, os falsos apetites. Eu venci ‘este mundo’ dentro de mim”.
Mesmo quando vencemos espiritualmente o mundo, um ditador desumano pode estar ocupando o trono do poder ou a bomba pode ainda estar lá fora. Contudo, será verdade que vencemos o mundo, porque não temeremos a bomba ou o ditador; não teremos medo do pecado, da enfermidade, da tentação, da necessidade ou da limitação. Vencemos o mundo porque fomos tocados pelo Messias, e o filho de Deus foi despertado em nós. Depois de termo sido assim tocados, podemos dizer: “Eu vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim”.“Posso todas as coisas naquele que me fortalece”. Quando o Cristo que habita em nós tiver ressuscitado, não haverá necessidade de se preocupar com nossa vida, porque este filho de Deus, em nós ressuscitado, irá, antes de nós, realizar cada atividade de nossa experiência.
Deus é Espírito e deve ser cultuado em espírito e na verdade. Deus é Espírito e governa pelo amor, não pela destruição das coisas, mas pela revelação mística da inexistência de qualquer outra coisa que não a presença de Deus. Quando orarmos, não peçamos que Deus faça algo, mas que o filho de Deus seja despertado em nós e governe nossa experiência. Não peçamos ao Messias para derrotar nossos inimigos ou nossos competidores. Oremos para que o Messias ressuscite em nós como um espírito de amor, e assim será para nós. Quanto mais nos estendermos à compreensão de Deus e de Cristo como Espírito, maior será a manifestação de Cristo em nossa própria experiência.
O perigo consiste no retorno às crenças antigas de que Deus ou Cristo é alguma forma de poder e que uma vez que nos agarremos a Ele, poderemos até fazer desaparecer Houdini (Nota: famoso mágico americano de teatro, 1874-1926). Podem estar certos de que não conseguiremos. Não dominaremos quaisquer inimigos. Não dominaremos quaisquer competidores. Apenas vivemos,nos movemos e existimos em uma paz alegre, em abundância e benevolência. Viveremos pela Graça, em vez de viver pelo poder ou pela força. Todas as coisas são realizadas pelo Espírito, não pelo poder ou pela força. É um Espírito nobre. Deus não está no furacão, no pecado, na doença, nos falsos apetites. Deus não está na pobreza. Deus está na “voz mansa e delicada” (I Reis 19:12). Conduzir-nos a uma vida sob a proteção de Deus, quer dizer levar-nos a uma vida por meio da qual possamos ser tão silenciosos intimamente, que, quando a voz mansa e delicada falar, será como se estivesse trovejando.
FUNÇÃO DE CRISTO
Cristo não é algo fora de nós que tem que ser procurado. Cristo é algo que já está dentro de nós, esperando atrair a nossa atenção.
O que é o Cristo? O que é o Espírito de Deus no homem? Qual o propósito de Deus em minha vida? Qual é a natureza da Presença que segue à minha frente para guiar o meu caminho? Qual é a natureza do poder que apareceu para Moisés como “uma nuvem”, “uma coluna de fogo”, e o “maná” caindo do céu? Qual é a natureza do Pai dentro de mim, que curou as doenças para o Mestre? Qual é a natureza deste Cristo que está dentro de mim e que me habilita a perdoar os pecadores? Qual é a natureza deste Cristo que é o pão, a carne, o vinho e a água para mim, a mulher na fonte e alguém que deseje vir até mim?
Nesse plano de meditação, a resposta virá de dentro de nosso ser, mas devemos abrir caminho.
Este Cristo, este Messias, está dentro de nós. O Messias não é um homem que vai chegar ou um homem que vai chegar uma segunda vez. Este Cristo, este Messias, é o Espírito de Deus que foi plantado em nós no princípio – não no princípio do intervalo da nossa vida aqui na terra, mas no princípio, quando éramos unos com Deus, no princípio, quando éramos formados à Sua imagem e semelhança. Seu propósito é viver a nossa vida, elevar-nos, redimir-nos, preparar o caminho para nós, preparar mansões para nós. Foi-nos dado no princípio. Ele agora está trancado de baixo de chave e devemos abrir caminho para que Ele possa fluir para nossa experiência.
Quando o Espírito de Deus estiver em nós, despertaremos para a consciência mística. Estamos determinados a nos tornar cientes de que o filho de Deus está entre nós:
“Dentro de mim habita Algo, uma Presença, uma Glória. Não está aqui para glorificar-me. Sua atividade é glorificar a Deus, provar o que é a vida quando é dirigida, mantida e sustentada por Deus”.
Então nos tornamos testemunhas da graça de Deus, da presença de Cristo dentro de nós.
Só tenhamos o cuidado de não fazer de Cristo algum tipo de poder temporal para nos ajudar a adquirir coisas temporais. Vamos nos satisfazer com o fato de que Cristo é o Espírito em nós e que podemos fazer tudo através d’Ele, com amor, sabedoria, com bom senso, equidade, misericórdia, igualdade e paz. A compreensão disto, e só disto, realiza “a paz que excede todo o entendimento”. Não há meios de se obter paz neste mundo. Podemos conseguir fama e riqueza e ter mais dificuldade do que esperamos. Mas o Messias mostra a diferença: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou: não como o mundo a dá”.
Em termos humanos, não sabemos, e ninguém pode dizer, qual é a natureza da paz. Minha paz é um estado de paz que nos invade, não por alguma coisa boa ter acontecido no mundo exterior, mas porque algo maravilhoso realizou-se dentro de nós. É como se fosse uma garantia: “Eu estou com você. Eu nunca o abandonarei. Eu estarei com você até o fim do mundo”. Nós quase poderíamos cantar esse refrão, pela vida afora, uma vez que nos tornamos cientes de que Cristo habita em nós. Agora, não há necessidade de se preocupar, nem de temer. Há uma Presença invisível guiando o nosso caminho.
A paz na terra não será alcançada só pelos esforços humanos. A paz na terra é uma dádiva de Deus que deve ser recebida pelas pessoas dentro do templo de seu próprio ser.
Não podemos saber por nossa própria índole pacífica, por nossa própria inabilidade de batalhar um com o outro, até que ponto Cristo penetrou na nossa Alma, até que ponto recebemos a dádiva de Deus, seu filho. Cristo ressuscitado entre nós é uma dádiva de Deus. Se ainda não O recebemos em grau suficiente, ainda é possível. O caminho está dentro de nós. O caminho é a introspecção, a meditação, a comunicação interior, o reconhecimento de que o filho de Deus habita entre nós e está sempre pronto a nos dirigir a palavra. De fato, Ele está se dirigindo a nós mesmo quando não O ouvimos. Ele tem estado clamando a nós através dos tempos.
Vivemos pela palavra de Deus, não pelo pão nem pelo dinheiro. É pela palavra de Deus, que se transforma em carne, que somos alimentados, vestidos e abrigados. É pela palavra de Deus que uma Graça divina nos leva a viver em paz. É esta dádiva de Deus dentro do templo de nosso próprio ser que estabelece nossa paz com nosso semelhante: amigos ou inimigos, próximos ou distantes. É a graça de Deus em nosso coração, o Cristo que entra em nossa Alma, que é a paz entre nós. Nada mais pode dá-lo a nós; nada mais pode mantê-lo. Nunca poderemos encontrar amparo ou nossa imortalidade por qualquer outro meio que não seja essa comunhão interior, por meio do qual ouvimos a voz mansa e delicada proferindo a palavra de Deus.
“Como pássaros voando”, deixaremos o Espírito realizar sua obra. Deixemo-Lo realizar Sua obra. Deixemos Deus. Deixemos que haja luz e observemos que há luz. Deixemos que haja firmamento e notemos que há um firmamento. Deixemos Deus agir e resistamos à tentação de procurar uma força para empregar, procurar a verdade ou qualquer coisa para empregar. Em vez de nos acomodarmos com a certeza de que Deus é Espírito e de que este Espírito tenha prometido que Ele nunca nos deixará ou nos abandonará. Ele sempre esteve conosco, mas nós O negligenciamos. Não só O negligenciamos, mas não sabíamos que Sua natureza era Onipotência; assim, tentamos fazer uso d’Ele contra alguma coisa. Não há nada contra o que empregá-Lo. Tudo quanto parece mal para nós é uma aparência e não temos o direito de julgar pelas aparências. Devemos deixar de combater o erro, deixar de tentar dominá-lo, deixar de querer buscar Deus para dominá-Lo e admitir que “Deus está comigo e é todo-poderoso”. Então veremos a natureza do poder espiritual, à medida que o silêncio revelar o Verbo feito carne.
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