quarta-feira, 31 de maio de 2017

Impersonalizando o erro - 01- JOEL GOLDSMITH





A história do mundo registra centenas de místicos que se elevaram tão alto em consciência ao ponto de conscientizarem o Eu; no entanto, muitos jamais conseguiram desfrutar uma vida feliz, saudável e bem-sucedida, ou formaram um corpo de alunos capazes de revelar ao mundo a harmonia divina aqui disponível para todos. Por quê? Por que atingiram tamanha elevação e, mesmo assim, continuaram às voltas com as discórdias deste mundo? Eis o motivo: não captaram a importância e o significado da natureza do erro.

Sem uma compreensão da natureza do erro, este mundo não será, na próxima geração, diferente do atual. Todos sabemos que têm havido várias revelações do Eu, mas, igualmente, sabemos que estas revelações não salvaram o mundo. 

A revelação da natureza do erro, combinada com a revelação do Eu, poderá cumprir este objetivo e irá fazê-lo.


Uma compreensão do não-poder do efeito é essencial

É verdade que a natureza do erro foi ensinada, em certa escala, nos primeiros anos de ensino e cura metafísicos, mas o real significado do princípio da nulidade e não-poder da doença não foi entendido. Acreditou-se que a mente, que foi tornada um sinônimo de Deus, era o poder que curava a doença; em resumo, que Deus era o poder que a removia. 

Contudo, se você aceitar a Verdade de que Deus é onipotente, logicamente concluirá o seguinte: “Ora, então nada, senão Deus, é Poder”. Isto implica a impotência de toda e qualquer coisa que se lhe apresente como poder, seja ela uma pessoa, circunstância, coisa ou condição. Poderá encará-la objetivamente e perceber quão impossível é ela capaz de ser um poder ou possuir um poder, sendo que Deus é onipresente e onipotente, a única Presença e o único Poder.

Quanto mais conscientes ficamos da natureza de Deus como Onisciência, Onipotência e Onipresença, mais nos tornamos conscientes do não-poder deste mundo do efeito. Talvez você fique a imaginar qual seria o motivo que provocou a não-descoberta deste princípio pelos antigos místicos, e a resposta é que suas mentes estavam condicionadas, assim como alguns dos místicos atuais estão condicionados. Eles acreditavam que o Carma é poder, mais poderoso até que Deus, ou acreditavam que Deus utiliza o mal para Seus objetivos. Estavam tão condicionados, que não podiam abrir mão de sua crença no poder do pecado, doença, falsos desejos, carência e limitação. Isto é o que dificulta explicar este princípio àqueles que não se deixaram conduzir internamente a este ensinamento. Os que conseguiram fazê-lo, puderam logo aceitá-lo e compreendê-lo, certamente por já terem tido a oportunidade de comprovar o não-poder do erro de uma forma ou de outra. Contudo, seja qual for esta experiência, isto é somente um começo.

Os poderes deste mundo não são poder na Presença de Deus

Como milhares de pessoas da atualidade, séculos atrás, também os hebreus oravam a Deus pela destruição dos males de seu mundo, mas nunca eles eram destruídos. 

Desde o advento do Cristianismo, os cristãos têm orado a Deus para vencer os males de seu mundo, e estas preces, igualmente, não foram bem-sucedidas. Pessoas de outras religiões e ensinamentos têm feito preces para dominar os males de seu mundo, mas estes não foram dominados. E isto jamais ocorrerá, a menos que haja o reconhecimento de que estamos todos perdendo tempo enfrentando o mal. Se Deus pudesse combater o mal, não precisaríamos orar a Ele para que assim o fizesse. Deus faria isto sem necessitar de nossas súplicas.

Não comece falando a Deus sobre algo que Ele não esteja já fazendo. A sabedoria de Deus é infinita – não a sua, mas a sabedoria de Deus. A sua sabedoria passa a ser infinita quando você “morre” o suficiente para as suas teorias, suas crenças, seus conceitos, e, em meditação, você se abre em consciência para receber a sabedoria de Deus. Somente assim, a sua sabedoria será infinita, por já não ser mais a sua, mas a sabedoria de Deus.

Em suas meditações, eventualmente, você chegará a uma profunda comunhão com Deus, entrando em tabernáculo com Ele. Esta Presença é tão real e tangível quanto qualquer coisa que você tenha conhecido, ou até mesmo muito mais real; e, ao começar a comungar com este Espírito, através de suas meditações, Ele, em seu íntimo, logo o convencerá de que os poderes do mundo não são poder, e mais especialmente, de que os poderes malignos do mundo não são mal algum. De fato, nada é mal, exceto quando o pensar o torna assim. Aceitá-lo o torna assim; porém, em si e de si mesmo, o mal não existe.

Em qualquer grau de cura espiritual que você tenha experienciado, você já obteve a prova desta Verdade. Em outras palavras, se esteve com um resfriado, que supostamente era um poder, e obteve uma cura espiritual, então irá saber que isto provou que o resfriado não era o poder que ele alegava ser.

Se você teve uma doença mais séria, e através de sua própria consciência, ou consciência espiritual de alguém, pôde observar o sumiço da dor e dos sintomas, e a conseqüente restauração da harmonia, tudo o que realmente você experienciou foi a nulidade daquilo que estava surgindo como uma doença, porque se ela fosse alguma coisa, continuaria existindo como alguma coisa. O próprio fato de que ela tenha desaparecido sem o uso de medicamentos materiais, cirurgia, ou outras aplicações de qualquer tipo, significa que ela não era aquilo que alegava ser.


Mal, um hipnotismo universal

Todo mal, de qualquer nome ou natureza, é produto de um hipnotismo, ou má-prática universal, baseada na crença em dois poderes, e descrita por Paulo como mente carnal. 

Qualquer discórdia à nossa frente nada mais é que este senso mesmérico. Não se trata de uma crença minha ou sua: trata-se de uma crença universal, sob a qual nos colocamos, em virtude da nossa ignorância da Verdade.

Através da atividade da mente carnal, operando universalmente, submetemo-nos a este hipnotismo desde o momento da concepção; e, se estivermos vivendo sob a lei do bem e do mal, tudo poderá acontecer. Ou nos sujeitamos à mente carnal universal, às suas crenças e atividades, ou atenderemos mais e mais ao impulso espiritual.

Exemplificando, quando no outono caem as primeiras chuvas frias, provavelmente três ou quatro, dentre dez pessoas, pegam resfriado, não por causa de seus pensamentos errados, mas devido ao hipnotismo universal oriundo desta crença em dois poderes. Tal hipnotismo pode ser quebrado pela conscientização de que não é preciso nos sujeitarmos ao mesmerismo do mundo, e pela compreensão de que o hipnotismo, ou mente carnal, não é de Deus; não é espiritualmente ordenado, não é sustentado por nenhuma lei espiritual. Concluindo: ele não é poder.

Nós não lutamos contra o hipnotismo ou mente carnal; não discutimos com ele; não tentamos destruí-lo nem nos elevarmos acima dele. 

Para nós, o hipnotismo e a “mente carnal” são meramente nomes que identificam o bem e o mal como a essência de toda limitação, mas tão logo sobrepujemos a crença nos poderes do bem e mal, iniciamos a dissolução da origem de nossas discórdias e desarmonias.

Quanto mais vivermos na conscientização de que não precisamos nos sujeitar ao hipnotismo universal da crença mundial em dois poderes, mais nos libertaremos daquela influência para vivermos sob a Graça e não sob a lei. 

Quando compreendermos a Deus como Onipotência, poderemos, então, perceber que o hipnotismo, o mesmerismo, a mente universal, ou a crença universal em dois poderes, não são poder; e, à medida que percebermos isto, proporcionalmente nos libertaremos.

Esta crença universal da mente humana ou carnal somente pode atuar como poder por causa da nossa aceitação da mesma; mas, em si e de si mesma, inexiste qualquer poder na sugestão de um ser apartado de Deus ou de uma presença ou poder apartados de Deus. A única presença é Onipresença. Embora possamos acreditar que vemos um fantasma, embora possamos ver pecado, doença, ou morte, a única presença é a Onipresença.

Deus é o único poder, a despeito das aparências, e Deus é onisciência, todo-sabedoria. Portanto, não temos de conhecer coisa alguma sobre a atividade da mente ou do corpo; tudo que nos cabe fazer é descansar na onisciência de Deus, repousar em Sua sabedoria infinita. 

Ao permanecermos na Onisciência, Onipotência e Onipresença, poderemos convictamente afirmar: “Ah, sim! Não há presença alguma nem poder algum ao lado de Deus, e isto a que chamamos de crença em dois poderes – a mente carnal – não é poder. Ela não pode atuar sobre o homem, nem através dele.”








terça-feira, 30 de maio de 2017

O QUE SABER PARA CURAR ESPIRITUALMENTE Joel S. Goldsmith




Tudo que sabemos sobre Deus não passa de conceito, e não aquilo que realmente Deus é. Nenhuma verdade que conhecemos é, de fato, a Verdade. Deus nos é revelado quando alcançamos a quietude interna. 

A Verdade é percebida e demonstrada claramente quando nos tornamos receptivos à Sua Presença. Nada permanece oculto para os que buscam a Deus por Deus mesmo – pela alegria, paz, vida e amor de Deus – pela Experiência em si.



Aprendendo a descartar nossas opiniões, crenças e teorias sobre Deus, percebendo o vazio dos conceitos humanos sobre a Verdade – discernimos Deus preenchendo o nosso Ser a ponto de viver a nossa própria vida!


Nesta experiência é revelado o próximo grande segredo da vida: nós não conhecemos o homem; não nos conhecemos uns aos outros; nem mesmo conhecemos a natureza dos animais ou das plantas. Sobre eles, somente vínhamos retendo opiniões e convicções baseadas em aparências. Vínhamos rotulando as pessoas de boas e más, de amigas e inimigas; acreditávamos ser isto saúde e ser aquilo uma doença. Julgávamos tudo “segundo as aparências”, enquanto o Mestre nos preveniu para que julgássemos “segundo a reta justiça”.


Todo o trabalho de cura espiritual se fundamenta nesta habilidade de ignorarmos as aparências e contemplarmos, “através delas”, este “julgamento justo”.


A habilidade de se conseguir esta capacidade curativa, ou discernimento verdadeiro, decorre da busca pela real percepção de Deus. Ao nos defrontarmos com alguma pessoa ou condição, precisamos evitar todo julgamento, todas as opiniões e conceitos, entendendo que nenhum deles representa realmente a verdade relativa àquela condição.


No exato instante em que cessamos de aceitar a aparência, e paramos de emitir uma opinião ou formar conceitos sobre a pessoa ou situação, alcançamos o Silêncio em que verificamos a ausência do pensamento humano, do medo, ódio ou julgamento – e então, o Pai interior (nossa própria Consciência crística) nos revelará a Verdade sobre a pessoa, condição ou situação. 

Nenhum de nós pode conhecer humanamente a Verdade, mas Deus pode, e irá fazê-lo, naquele momento de Quietude, revelando-nos a Verdade sobre tudo que nos for requerido saber.


Aproxime-se de cada pessoa ou condição da mesma forma com que se aproximaria de Deus – com pleno conhecimento de que todo o seu saber não é verdadeiro, sendo apenas um conceito ou opinião baseada numa aparência – mas como Deus possui o conhecimento verdadeiro, na quietude interna aguarde poder ouvir e conhecer a Verdade, e observar a Realidade espiritual concernente à pessoa ou situação em foco.

Na revelação recebida internamente, em paz e quietude, está a cura. Eis por que sabemos que nem eu nem ninguém realiza curas – porém, podemos ser instrumentos pelos quais a “consciência curativa” nos abençoa e também aos que nos encontram.

Vínhamos aprendendo que o “curador” é a Consciência espiritual. Agora conhecemos a natureza desta Consciência: a habilidade de refrearmos a aceitação dos conceitos sobre Deus e sobre o homem, e um instante de quietude humana, que permita ao Espírito Divino revelar-Se.

A Consciência espiritual é a sua e a minha consciência, quando desprovida de senso pessoal, desejos e conceitos de vida. 

A Consciência espiritual é a sua e a minha, quando nos recusamos a aceitar conceitos, temores e ódios do mundo, para recebermos internamente a paz e confiança provenientes da conscientização de Sua Presença.








segunda-feira, 29 de maio de 2017

Meditação (Joel S. Goldsmith)





Meditar significa: "fixar a mente em"; "pensar em algo ininterruptamente"; "contemplar"; "envolver-se em reflexão contínua e contemplativa"; "deixar-se ficar mentalmente em alguma coisa"; "remoer"; "cogitar".


Em linguagem espiritual, meditação é oração. 

A oração verdadeira, ou meditação, não é pensamento voltado para nós mesmos ou para nossos problemas; é antes a contemplação de Deus e de Suas obras, da natureza de Deus e do mundo que Deus criou.

Todo mundo deveria reservar algum tempo, diariamente, para se recolher a um canto quieto e meditar. Durante este período deveria voltar seu pensamento para Deus, ponderar a sua compreensão de Deus e buscar uma compreensão mais profunda da natureza do Espírito e de Suas formas. Deveria tomar o cuidado de não levar para o estado meditativo problemas seus ou de outros. Este é um momento especial, à parte, dedicado e consagrado à reflexão sobre Deus e Seu universo.

Deus é a Alma e a Mente de todos os indivíduos e, por isso, é possível a todos nós sintonizarmos com o reino de Deus, receber as divinas mensagens e promessas e os benefícios do Amor infinito. A Graça de Deus que recebemos nestes momentos de meditação ou oração se nos torna tangível na forma de preenchimento das chamadas necessidades humanas. 

Se, porém, nós não abrirmos a nossa consciência para recebermos a compreensão espiritual, não teremos de ficar surpresos se não experimentarmos nenhum bem espiritual na vida cotidiana. E não há outro caminho para abrirmos nossa consciência para o reino da Alma a não ser pela meditação ou oração, através da contemplação das coisas de Deus. "Tu manterás em perfeita paz aquele cuja mente está fixada em ti."

Durante o dia todo, nossos pensamentos estão voltados para as atividades da vivência humana, nos cuidados e deveres para com a família, nos ganhos necessários ao sustento, nos negócios sociais e comunitários e, por vezes, até nos grandes negócios de Estado. Não é pois natural que durante o dia ou ao anoitecer nos disponhamos a nos retirar por um tempinho para as profundezas de nossa consciência, que é o Templo de Deus, e aqui nos envolvermos com as coisas de Deus? E, acima de tudo, temos de desenvolver o sentido de receptividade, de modo a nos tornarmos sempre mais cientes da presença real de Deus em Seu templo sagrado, que é a nossa consciência. No lugar secreto do Altíssimo, do Santo dos Santos, que é a nossa própria consciência profunda, nós recebemos a iluminação, a direção, a sabedoria e o poder espiritual. "Na confiança e na quietude estará vossa força."

Quando aprendemos a ouvir a "pequena voz silenciosa", o Espírito de Deus abre nossa consciência para o reconhecimento imediato do bem espiritual. Somos então preenchidos com as divinas energias do Espírito, iluminados pela luz da Alma; recebemos o refrigério das águas da Vida e alimentados pelo pão que não perece. Este alimento espiritual nunca é negado àqueles que aprendem a encontrar Deus no templo de seu ser.

Para recebermos a Graça de Deus, devemos nos retirar do mundo dos sentidos, aprender a silenciar os sentidos materiais e nos encontrarmos com Deus. Deus deve se tornar, para nós, uma realidade viva, uma divina presença, o Espírito Santo em nosso ser; e tudo isso só pode nos acontecer quando tivermos aprendido a meditar, a orar e a contemplar Deus.

Pela meditação, nos tornamos conscientes da presença do Cristo, e esta percepção permanece conosco durante todo o dia e a noite toda, mesmo que estejamos lidando com as coisas de nossa existência humana. Esta percepção permeia toda nossa experiência e faz prosperar todos nossos empenhos. Esta consciência do Cristo é a luz para os nossos passos e uma estrela guia para nossas aspirações. É a Presença que caminha à nossa frente e aplana nossos caminhos. É uma qualidade em nós que nos torna compreendidos e apreciados pelos nossos semelhantes.

Ao acordar pela manhã, e de preferência antes de sair da cama, volte seus pensamentos à conscientização de que "Eu e o Pai somos um"... "Filho... tudo que tenho é teu"... "O lugar onde estás é solo sagrado"; e deixe então que o significado disso se desdobre de dentro de sua própria consciência. Alcance a convicção de sua unidade com o Pai, com a Vida universal, com a Consciência universal. Sinta a infinitude do bem dentro de você, que é a evidência da sua unidade com a infinita Fonte de seu próprio ser.

Tão logo sinta uma emoção, um estado de paz profunda ou uma onda de Vida divina, levante-se e faça os preparativos físicos para o seu dia. Antes de sair de casa, sente e pondere sobre sua unidade com Deus.

A onda é uma com o oceano, indivisível e inseparável do oceano como um todo. Tudo o que o oceano é, a onda é; e todo o poder, a energia, toda a força, toda a vida e substância do oceano estão expressas em cada onda. A onda atinge tudo o que está sob si mesma, pois que a onda é de fato o oceano, assim como o oceano é a onda, uno, inseparável, indivisível. Notemos aqui um ponto importante: não há um lugar onde uma onda termine e outra onda comece, de modo que a unidade da onda com o oceano subentende a unidade de uma onda com a outra.

Do mesmo modo que a onda é una com o mar, assim somos um com Deus. Nossa unidade com a Vida universal constitui nossa unidade com cada expressão individual desta Vida; a unidade com a divina Consciência é a unidade com cada concepção desta Consciência. Assim como a infinitude de Deus brota através de você para abençoar todos aqueles com quem se relaciona, lembre-se de que também transborda de todos os outros indivíduos sobre você. Ninguém compartilha com você qualquer coisa que seja seu mesmo, pois tudo o que tem é do Pai; assim também tudo o que você tem é do Pai, e você o compartilha com o mundo. Você é um com o Pai, com a Consciência universal, e é também um com cada idéia espiritual abarcada por esta Consciência.

Se pudermos apanhá-la, esta é uma idéia poderosa. Significa que o que é do seu interesse o é também para todos os indivíduos do mundo; significa que aquilo que é interesse dos outros o é também para você; significa que não temos interesses separados uns dos outros e mesmo que não temos interesses separados dos de Deus; significa de fato que tudo o que o Pai tem é também nosso, e tudo o que nós temos é para o benefício de todos, e o que os outros têm é também para nosso benefício, e tudo isso é para a glória de Deus.

Esta idéia deve desdobrar-se dentro de nós de maneira própria. Deve, aos poucos, dia após dia, assumir formas diferentes, e sempre com significados maior por causa da infinitude da Consciência. Pode observar como uma árvore tem muitos ramos, e como cada ramo é um com o tronco e, por isso, é um com a raiz, e a raiz da árvore é uma com a terra, e retira dela tudo o que a terra tem a oferecer, e, além disso, que cada ramo não só é um com a árvore toda, mas também com cada outro ramo, como partes interligadas do todo.

Ao ponderarmos esta ideia de nossa unidade com Deus e com cada conceito individual do espírito, surgirão em nós novas idéias, novas imagens e símbolos originais. Terminando esta meditação matinal, acharemos que sentimos realmente a presença de Deus dentro de nós; sentiremos de fato a divina energia do Espírito; sentiremos surgir uma vida nova dentro de nós; e isso nos levará ainda a outros pensamentos.

Sempre que vamos de um lugar para outro, como quando deixamos nossa casa para ir ao trabalho, ou do trabalho para ir à Igreja, ou desta para voltar para casa, paremos por uns momentos para perceber que a Presença andou à nossa frente para preparar o caminho, e que esta mesma Presença divina ficou atrás de nós como uma bênção para todos que passam pelo mesmo caminho. No início, poderemos esquecer de fazer isso diversas vezes ao dia, mas, exercitando nossa memória, isso se tornará provavelmente uma atividade habitual em nossa consciência, e então não mais caminharemos sem sentir a divina Presença sobre e atrás de nós, e assim nós seremos a luz do mundo.

Um dos assuntos que mais nos preocupa nestes últimos anos é a paz, embora tenhamos bem pouca esperança numa paz duradoura baseada em qualquer documento ou organização humanos. Realmente, estes têm um propósito e são uma etapa necessária para os seres humanos, assim como os Dez Mandamentos foram uma etapa necessária até que fossem substituídos pelo Sermão da Montanha, com sua visão superior. Nós não precisamos dos Dez Mandamentos, pois nós não precisamos de exortações para não roubar, mentir ou fraudar, nem precisamos de ameaças de punição para nos mantermos honestos, limpos e puros; no entanto, os Dez Mandamentos são necessários para aqueles que ainda não aprenderam a justiça como fim a si mesma.

Do mesmo modo, o mundo está grandemente necessitado de algum tipo de organização ou documento humanos para manter alguma forma ou alguma medida de paz no mundo. Mas a paz verdadeira, definitiva, só virá como veio para cada um de nós individualmente, pela percepção de que não precisamos de qualquer coisa que outros tenham e, por isso, não há motivos para guerrear. Tudo o que o Pai tem é nosso. Que mais poderíamos querer além disso? De fato, como co-herdeiros de Deus com Cristo, poderíamos alimentar cinco mil a cada dia, sem sequer nos preocuparmos de onde o alimento viria.

Quando toda a humanidade atingir esta consciência de sua verdadeira identidade, não mais haverá guerras, competição, conflitos. Ganhando a plena consciência de nossa verdadeira identidade, o demonstraremos por um maior senso de harmonia, de saúde e sucesso, e atrairemos a nós, um a um, os que buscam o mesmo caminho. Desse modo, todos os homens serão por fim conduzidos ao reino dos céus.







domingo, 28 de maio de 2017

Qual era o teu impedimento? (final)






A verdadeira cura pelo espírito é totalmente diversa de todos esses processos. 

Na cura espiritual, como é ensinada pelo caminho da auto-realização, não há nenhuma causa psíquica nem mental, quer dizer, não existe nenhuma causa mental individual para um doença física. 

É certo que há causas mentais que têm conseqüências materiais, mas essas causas não estão contidas pessoalmente no homem individual; trata-se de uma crença geral na existência de uma egoidade separada de Deus, e essa crença atua hipnoticamente.

No ambiente dessa hipnose coletiva, seja qual for a doença e questão, não é o doente o responsável, tampouco é ele responsável pela “falsa ideologia” da humanidade, que atuou como preliminar da enfermidade. 

Não sejamos tão “metafísicos” ao ponto de pensar que fulano contraiu a sua doença pelo fato de ter alimentado pensamentos errados – ele, ou talvez sua avó. Não sucumbamos a semelhantes conversas! Por esses pensamentos errôneos é ele tão pouco responsável como pelas chamadas conseqüências dos mesmos, porque em ambos os casos ele é apenas vítima de uma crença universal, de uma hipnose coletiva, que ele aceitou, e que também nós, tu e eu, temos aceitado.

Com outras palavras: se tu és ciumento ou invejoso ou desonesto, não é esta a tua culpa, e, além disto, nunca te libertarás desses erros enquanto não aparecer alguém e te mostrar, ou enquanto tu mesmo, pela experiência própria, não te tornares consciente de como libertar-te desses erros. Não poderás corrigi-los tentando ser apenas um homem melhor, ou pelo fato de resolveres “Eu deixarei de ser ciumento”, ou “A partir de hoje, deixarei de ser desonesto”. 

Deste modo, nada conseguirás; através de gerações e gerações foi feita esta tentativa, e sem resultado – e daqui por diante será o mesmo insucesso.

Mais do que isto é necessário. Algo tem de achar entrada no teu consciente, algo que te liberte de um falso pensar e que torne impossível esse falso pensar em toda a tua vida. 

O primeiro passo para essa decisiva metamorfose está no seguinte: Cessa de condenares a ti mesmo! Cessa de repreender-te por causa dos teus pecados e erros! Nada conseguirás condenando-te a ti ou a teus semelhantes. Acaba com essa autocondenação e compreende que marcarás passo no plano negativo, de ordem mental ou material, na medida em que aceitares e fizeres atuar sobre ti crenças que te foram impingidas pelo mundo.

Começa a compreender que a natureza do teu ser é Deus, que a essência de tua alma é a essência de Deus, e que a natureza do teu corpo é a do templo de Deus. Sim, o teu corpo é o santuário do Deus vivo; cessa de condená-lo, de odiá-lo ou de temê-lo. Compreende que a tua mente é um instrumento através do qual pode fluir Deus, a Verdade. Não condenes a tua inteligência, dizendo que é imperfeita ou mortal, ou má. Tal inteligência não existe no mundo de Deus; existe uma mente só, e essa mente é instrumento de Deus. Se desistires dessa incessante mania condenatória, verás que a tua mente é um espelho límpido para refletir a tua alma.

Quem lida com animais ou com crianças sabe que, por meio de censuras e punições, não se consegue despertar neles o que neles há de bom; não adiante mostrar-lhes quanto são maus e malcreados. Para despertar o bom que há em uma criança, em um animal, em uma flor, ou em outro ser vivo qualquer, deve-se amá-lo, abençoá-lo e reconhecer que o próprio Deus é o fundamento do ser e da natureza deles.

Se alguém solicita a tua ajuda, não te arvores em juiz sobre ele, não o critiques, não o censures; não procures descobrir os seus pecados de comissão ou de omissão; porque, mesmo que eles existissem, seriam apenas conseqüências de outra coisa. Não são causas. Por detrás de cada erro e cada culpa há uma causa, mas essa causa nunca é pessoal – a causa é uma hipnose universal.

Isto faz compreender porque há doentes e culpados, como se desenvolvem os desejos e concupiscências, porque há homens fracos que se embriagam, e homem assaz tresloucados para dirigirem loucamente o seu carro. Não é porque eles mesmos queiram ser assim. Essa hipnose coletiva subjuga os homens, sem que eles tenham disto consciência, e atua sobre eles de tal modo que milhares sofrem resfriados quando o mundo afirma que está chovendo lá fora.

O curador espiritual, porém, nada tem que ver com resfriados, câncer, tuberculose ou paralisia infantil; nem se interessa por influências intra-uterinas, por sintomas de períodos de transição ou de velhice; o curador enfrenta um fenômeno de falsa interpretação da realidade – hipnose, sugestão, crenças universalmente obrigatórias. Estas coisas, porém, não possuem realidade intrínseca, nem identidade. Hipnose é algo que produz uma imagem mental; mas essa imagem não tem substância, nem tem força de lei, não tem fundamento real; no momento em que a hipnose cessa dissipa-se a imagem.

Procuremos agora compreender como se desenrola esse processo. Fecha os olhos. Visualiza, em pensamentos, uma rua, uma rua qualquer, uma rua tua conhecida. Contempla as casas, casas de todos os feitios; casas de tijolos, de pedra, de madeira. Diante das casas há gramados; diante de uma há um canteiro de rosas; diante de outra, florescem zínias e cravos. Crianças estão brincando, e pela rua passa, de vez em quando, um automóvel. De repente uma das crianças tenta cruzar a rua, diante de um carro em plena corrida; ouves o ranger dos freios, percebes o grito da criança.

Neste momento toca a campainha de entrada da casa, ou telefone – e tu acordas. Abres os olhos – e lá se foi o sonho! Onde estão as casas? Onde estão as crianças? Que é do acidente? Tudo desapareceu, porque nunca existiu; pois um sonho não pode produzir casas, crianças, acidentes. 

A substância de um sonho só pode criar imagens sem substâncias. O mesmo se dá com a hipnose. Um hipnotizador pode fazer com que vejas no teu quarto uma dúzia de burros a dançar – mas nenhum deles estará lá realmente. Suposto que estejas tão hipnotizado que tenhas a certeza de ver esses burros na realidade; que deveria fazer para libertar-te deles? Despertar da hipnose, e nada mais.

Na cura pelo espírito, não importa que o curado se chame Fulano, Sicrano ou Beltrano; nem importa que se trate de câncer, tuberculose ou paralisia: quer se trate de desemprego, de inflação ou de desarmonias no lar – não sucumbas à tentação de focalizar pessoas ou situações, em teu tratamento. Não prestes atenção a essas substâncias insubstanciais, que poderás chamar como quiseres – mente mortal, hipnose, sugestão, etc. Pode ser tudo e qualquer coisa contanto que tu tenhas a consciência de que não significa nada – que é sem substância, sem força de lei, sem fundamento real.

Quando compreendemos que, na terapia espiritual, não se trata de pessoas como pessoas; quando as podemos eliminar dos nossos pensamentos com todas as suas necessidades peculiares, sabendo que tudo isto é mente mortal, braço de carne, um nada – então não tardaremos a sentir uma presença espiritual. Esta presença não será sentida enquanto não estivermos livres da barreira – e esta barreira é a crença em dois poderes, a barreira é a crença em algo separado de Deus.

Quem quiser, pode usar a palavra “tentação”, em vez de hipnose. Quem se sente doente, pode considerar isto como tentação, que pode ser aceita ou rejeitada.

A mente mortal não é a antítese do espírito divino; e ninguém deve esperar que o espírito divino lute contra a mente mortal. A partir do momento em que verificamos que a mente mortal é um braço carnal, um traço de giz no chão, um simples nada, deixamos de admitir dois poderes, e podemos “repousar na palavra de Deus”, como diz a Escritura. Repousa, pois, nesta palavra do Senhor; quando ele vem, quebrará a magia da hipnose.

Depois que despontou em mim o conhecimento de que todos os males, de qualquer natureza, procedem de uma hipnose geral, andei quebrando a cabeça durante alguns anos, para descobrir como neutralizar esse estado hipnótico. Que fazer? Um hipnotizador estala os dedos – e seu médium acorda, ou então lhe dá uma simples ordem mental para acordar. É o que eu não posso fazer, porque no plano espiritual não posso servir-me de expedientes físicos e mentais.

Foi naquele tempo que descobri o tópico da Escritura, que vai através de todos os meus escritos, tópico que fala de uma “pedra arrancada do monte sem mão humana”. Até esse tempo, havia eu pensado, por alguns meses, sob a significação obscura dessas palavras; veio-me então a resposta: A arma contra o erro – para ofensiva e defensiva – é algo que não é físico nem mental, não são atos, nem palavras, nem pensamentos – é simplesmente a experiência da presença de Deus.

Quando transferimos isto para a prática e consideramos o modo como a pedra se forma em nossa consciência, e sai da nossa consciência, enquanto nós assistimos a esse processo como simples testemunhas e observadores – então surge em nossa alma um estado de grande paz. Então percebemos um vislumbre de Deus como “Aquele que é” – não como um poder sobre algo, mas simplesmente como “Aquele que é”, e começamos a compreender que não existe nenhum poder que possa fazer algo a alguém; passamos a ser simples espectadores, olhando como a Realidade vai aparecendo. 

Todas as dificuldades se dissipam na medida em que desenvolvemos a faculdade de ficar quietos, de contemplar, de sermos testemunhas de como a harmonia divina se desdobra; e, graças ao principio da unidade, também os nossos pacientes participam dessa harmonia.

O princípio que subjaz a esse processo resume-se no seguinte: uma vez que a substância e atividade da mente humana é a substância e atividade da hipnose, toda a hipnotização desaparece no momento em que a mente suspende a sua atuação. 

Quando deixamos de pensar pensamentos e palavras, e mergulhamos no grande silêncio, então a mente pára – e, na parada da mente, a hipnose acabou. Ao vivermos essa experiência, sentimos que entramos em uma nova dimensão, que ultrapassa a vida.

Homem, não percas o teu tempo em lutas contra as formas da ilusão; não tentes eliminar reumatismo, câncer ou tuberculose, nem te preocupes com o problema da decrepitude senil. Não procures modificar o mundo dos fenômenos. Remonta mais além! Reconhece que, na verdade, Deus somente é o teu ser, que a única coisa que te faz sofrer é essa crença generalizada em dois poderes. Remonta além de tudo e repousa na Palavra, no Verbo de Deus. Se debelares um aspecto do erro, e o derrotares, por detrás dele surgirão dez outros e tomarão o lugar do primeiro. 

É necessário que elimines a própria causa das desarmonias humanas. Que causa é essa? 
É uma vasta teia feita de Nadas, essa assim chamada mente carnal, que não tem poder algum, a não ser para aqueles que, sem cessar, lutam contra o mal, esquecidos da sabedoria do Mestre, que diz: “Não vos oponhais ao maligno!”.

Se, em qualquer caso que se te apresente puderes prescindir da pessoa, do seu nome e da natureza do caso em questão; se puderes evocar alguma palavra ou expressão que para ti represente o nada – e não algo que deva ser combatido, nem algo que deva ser superado, mas o puro nada, de maneira que tenham diante de ti um único Poder – então poderás ficar sentado em tranquila meditação, e sentirás a descida do ESPÍRITO SANTO, e uma paz que ultrapassa toda a compreensão – sentirás a presença divina e a libertação de temores e discórdias.

Quando entrares em meditação, mantém em ti a consciência de não pedires alguma modificação ou cura, nenhum restabelecimento ou melhoramento de algo ou de alguém. 

Focaliza nitidamente isto: “Entro em meditação, mas não trato de nenhuma pessoa ou circunstância. Minha meditação nada tem que ver com isto. Só se ocupa com a experiência da presença de Deus, aqui e agora onde estou. Por isto, me mantenho quieto e permitirei essa realização.”

A única coisa necessária para estabelecer a harmonia é o reconhecimento da graça de Deus. Não necessitamos de um acervo de erudição metafísica; necessitamos de saber apenas as coisas simples e ingênuas, a realidade do poder único, e a irrealidade de todas as potências adversas.

Compreende que Deus é mais que uma palavra. Deus é mais que uma longa lista de sinônimos – Deus é uma experiência, e ninguém sabe o que Deus é se não o saborear por experiência própria.







sábado, 27 de maio de 2017

Qual era o teu impedimento? (parte 01)




 
Quando crianças, tínhamos um certo jogo: traçávamos, com giz, diversos quadrados na calçada; o parceiro nos tocava para dentro de um desses quadrinhos de giz, e dele não podia sair o prisioneiro enquanto não pagasse determinado preço de resgate. Por que não podia sair o preso de sua prisão? Quem o prendia lá dentro? Um traço branco de giz – e nada mais. Mas as regras do jogo o obrigavam a se julgar preso – e por isso estava preso.

Isto é divertido enquanto não passa de simples jogo.

Mas seria trágico se as outras crianças fossem para casa, e o preso se julgasse impossibilitado de sair do seu cárcere, por causa daquele traço de giz. Para se libertar, bastaria cruzar o traço.

O divino Mestre, no tempo de sua peregrinação terrestre, encontrou numerosos homens que estavam presos por um simples traço de giz; lá estavam os aleijados, os doentes de toda espécie, à beira das estradas, à entrada do templo; Jesus os olhava e dizia: “Queres ser curado?... levanta-te, tome o teu leito e vai para casa!”. E eles se levantam e andavam. Nada os impedia de andarem; tinham apenas obedecido a uma certa regra da vida humana, que estabelece que, em certas circunstâncias ou com certa idade, deve o homem ficar doente – e eles haviam aceitado essa regra como obrigatória. Jesus via o traço de giz que os prendia – e eles, certos de que nada os prendia, levantavam-se e iam embora. A Lázaro disse ele: “Lázaro, vem para fora” – e Lázaro veio para fora. Que é que o impedia? As regras do jogo da vida humana.

E, destarte, continuarão os homens a sofrer, até que apareça alguém e veja que as leis do pecado, da doença, da pobreza, são apenas traços de giz; e lhes diga, em virtude da sua visão espiritual: “Qual era o teu impedimento?”

Disse o divino Mestre que todos nós devíamos tornar-nos como crianças a fim de podermos abraçar a verdade. Muitas vezes a razão para curas retardadas é a incapacidade do curador de ser assaz infantil para enxergar uma simples linha de giz, onde os outros vêem indícios de morte ou estatuem certo período para o término da doença.

E, quando se trata de um mal incurável, os homens enxergam três traços de giz, em vez de enxergarem um só, e estão mais firmemente presos no seu cárcere do que nunca. Imaginem, um “mal incurável”! E que coisa pior poderia haver? Entretanto, é fato que a cura espiritual tem, muitas vezes, mais resultados com esses “males incuráveis” do que com “males curáveis”. A razão é esta: quando o médico desengana o doente, e diz que fez tudo que pôde, e nada conseguiu – então o paciente perde a esperança nos recursos da medicina, e esta falta de esperança o torna mais receptivo para os impulsos espirituais.

Somente os traços brancos de giz – tempo, diagnóstico, sintomas e outros indícios – te podem fazer crer que és um prisioneiro de doença e culpa. A única coisa necessária para a tua libertação é saltares por cima do traço de giz. E por que não? Que é que te impede? Uma crença? Uma teoria? No momento em que vejas nisto uma simples crença, uma simples teoria, apagam-se os traços brancos do teu cárcere – e estás livre.

Quando Pedro estava preso no cárcere, havia três ferrolhos que o fechavam na prisão, e era aparentemente impossível abrir caminho para a liberdade. Então apareceu um anjo do Senhor – e deu-se o prodígio! Pedro estava do lado de fora, mas os ferrolhos e outras fechaduras estavam ainda no mesmo lugar onde se achavam antes...

O profeta Ezequiel, em face da prepotência inimiga, bradou a seu povo, no momento da luta: “Eles confiam em braços de carne – nós, porém, confiamos em Deus nosso Senhor, que nos ampara na luta!” Tens algum problema de caráter físico, espiritual, moral ou econômico? Dize a ti mesmo: “Isto é apenas um braço de carne, que tenta convencer-me de que nele resida um poder – mas esse poder não existe em um braço carnal”.

Faze a soma de todos os erros – pecado, doença, infecção, contágio, morte, pobreza, limitações, tempo, clima – e liberta-te de todos de uma só vez, considerando-os todos como um “braço carnal”, que não vale a pena combater. Só então poderás começar a cura, antes não. Aproximar-te-ás do Reino de Deus quando Deus se tornar para ti Tudo-em-Tudo e se cada problema da tua vida te parecer um “braço carnal”, um traço de giz no chão, nenhum impedimento real, um simples Nada – porque chegaste à experiência de que a natureza de Deus é realidade infinita, onipresente, onisciente, inesgotável sabedoria e amor.

É muito interessante entender isto intelectualmente; fazer viver isto em pensamentos é muito divertido. Mas eis que, um dia defrontamos com algo que nos diz, face a face: “Eu sou um aleijado... Eu sou um mendigo... Eu sou gripe... Eu sou câncer, tuberculose, desemprego, pobreza, deficiência...” E um tremor nos percorre o corpo todo. E verificamos que só vivíamos em palavras, e nada sabíamos da experiência da realidade. Temos de enfrentar o inimigo com atos reais. Encara-o bem de frente, para verificar se, porventura, não se trata de um traço de giz, ou de um “braço carnal”; e, sabendo isto, chegarás à inabalável convicção: “Eu, o Deus em mim, é Tudo-em-Tudo; Tu, lá fora, não és nada senão um traço branco de giz, um pobre ‘braço carnal’...”

Imaginemos um terrível pesadelo. Sonhamos estar nadando no mar. Afastamo-nos demais do litoral, perdemos de vista a praia. Começamos a ir a pique. Gritamos por socorro com todas as nossas forças, mas ninguém nos ouve. E, quanto mais lutamos com as ondas, mais nos afundamos. Só nos resta perecermos afogados. Mas eis que de repente o nadador agonizante se sente empolgado por uma mão vigorosa que o sacode. E dá-se o grande prodígio... Desaparece o mar... cessa a luta... O agonizante acorda – e está deitado comodamente em sua cama, lá em casa!... A única coisa que foi necessária para se libertar da luta e da morte foi apenas isto – acordar...

É esta a quintessência da cura pelo espírito – acordar! Seja qual for a tua luta – contra doença, contra pobreza, contra desemprego, contra tristeza, contra pecado – deixa de lutar e acorda! Torna-te consciente da tua verdadeira unidade com o Infinito. Não és nenhum nadador em casto mar; não és vítima de culpa e doença; tu és a consciência do Cristo, tu és um filho de Deus; o erro contra o qual lutas é precisamente este que perpetua a luta.

Não há motivo algum para lutar. Relaxa, solta os teus nervos e compreende que não há nada em todo o Universo se não Deus somente, esse Deus que se manifesta na forma de um tu, na forma de um eu; O Eu divino, uno e indivisível, aparece individualizado em ti, em mim. “Vós sois deuses”... O teu destino é harmonia divina; é o destino de todo homem individual, sadio ou doente, santo ou pecador. O supremo destino de cada um de nós é a harmonia divina – quando acordados. “Saturar-me-ei com tua imagem, quando acordar.”

Quando o homem começa a compreender o sentido desse acordar, então percebe que as ilusões deste mundo – pecado e doenças, limitações e deficiências – não são coisas realmente existentes no mundo de Deus, mas tão-somente miragens e idéias creadas pela mente humana. Esta circunstância, de serem apenas criações nossas, não torna esses males menos dolorosos e ingratos, mas agora existe a possibilidade de nos libertarmos deles. O que foi criado por nós pode ser por nós abolido. A cura pelo espírito é impossível enquanto mantivermos a convicção de que os males sejam realidades existentes no mundo de Deus. Conhecer o seu verdadeiro caráter é ser curado desses males.

Quem se ocupou com a doutrina metafísica teve de aprender que a natureza do pecado e das doenças é pura ilusão, é “mente mortal”, é um “nada”. Mas para a maior parte dos estudiosos dessa doutrina, a ilusão, a mente mortal, o nada, continua a ser algo que deva ser curado, de algo que o homem deva se libertar. Uma vez que reconhecemos esse algo como inexistente, quando sabemos que o fantasma acocorado em um canto não existe lá fora, mas apenas em nossa mente, seria ridículo exigir de nós que expulsássemos o fantasma.

Uma vez sabendo que aquilo que Jesus chamava “este mundo” – isto é, a concepção/idéia material do mundo – é na realidade pura ilusão, então também compreendemos porque o Mestre podia afirmar “eu venci o mundo”. Venceu o mundo pelo conhecimento de que este mundo é uma miragem creada pela nossa mente. E, se nós quisermos vencer este mundo, só o poderemos fazer do mesmo modo: pela vitória da verdade sobre o erro, pelo triunfo da realidade sobre a ilusão. Não são os sentidos que se iludem, mas a nossa mente, que constrói juízos errôneos sobre aquilo que os sentidos nos apresentam. Todas as desarmonias que há neste mundo são produtos da mente falaz.

Este estado de percepção imperfeita da realidade e do eterno, não raro, é designado nos livros de autorrealização, como estado hipnótico. Qualquer pessoa que tenha observado como a massa ou uma nação reage à propaganda ou publicidade, sabe como funciona a hipnose das massas, quando as respectivas cobaias se sentem sob pressão e coação desses fatores. Nesses casos, não há nenhum hipnotizador individual, como não existe uma determinada cobaia visada pela propaganda, mas o efeito não deixa de ser hipnótico, supondo que haja alguém que possua suficiente receptividade sugestiva, devido à falta de vontade própria. As vítimas desse impacto nada têm que ver com os processos da propaganda, o que não impedem de caírem vítimas da hipnose coletiva. O indivíduo humano aparece no mundo já hipnotizado até certo ponto, porque o simples fato de nascer entre homens o predispõe ao impacto hipnótico, uma vez que todas as pessoas do seu meio consideram o mundo material como realmente existente – e assim sucumbe também ele a essa fascinação universal. É esse ambiente coletivo da humanidade que atua sobre uns como doença, sobre outros como concupiscência, sobre outros como pobreza ou como outro mal. É essa hipnotização universal que o indivíduo sucumbe, em virtude de sua receptividade, que já lhe vem do seio materno.

A conseqüência dessa sugestividade se revela, depois, pelo fato de aceitarmos os males desta vida – doenças, morte, limitações, deficiências, desemprego, inflação, guerras, acidentes, etc. – como coisas inevitáveis. Ponhamos o machado à raiz da árvore, e não percamos o tempo em cortar apenas uns galhos! Não tentemos curar aqui um pedacinho de carne, e medicar acolá um fragmento dos nossos desejos desregrados. Compreendamos que a terapia espiritual não está interessada em curar uma pessoa ou um estado mórbido particular – ela se vê em face de uma hipnose coletiva.

Ultimamente, se tornou popular a expressão “percepção subliminar”. Verificou-se que muitos homens reagem a influências que lhes são totalmente inconscientes. Assim, por exemplo, foi projetado na tela de um cinema um convite aos assistentes para comprarem pipocas e coca-cola, no intervalo da exibição, mas com tanta velocidade que ninguém pôde perceber coisa alguma na tela. Embora invisível aos olhos, esse convite produziu efeito inesperado no subconsciente, tanto assim, que, logo depois uma grande multidão foi adquirir pipocas e coca-cola, que talvez nem apetecessem na zona do seu consciente. Nenhum convite lhes fora feito conscientemente; de nenhum reclamo tinham eles noção; não obedeceram a nenhum convite conhecido – agiram em conseqüência de uma sugestão de que nada sabiam. Se esse convite lhes fosse feito na zona de seu consciente, poderiam ter resolvido pró ou contra, se iam ou não iam comprar essas coisas; mas agiram como autômatos inconscientes.

Uma vez conhecido o modo como opera esse hipnotismo, sabe-se porque todo homem cai vítima dos males deste mundo, até que compreenda a natureza desses erros. Aquele público no cinema poderia, da mesma forma, ser sugestionado inconscientemente “Tens um resfriado”, ou “Estás com câncer”, ou “Estás com medo” – eles seriam afetados por esses males. Sabemos que tal coisa acontece; por vezes nos sentimos tomados de temores e angústias, sem saber como nem por quê. Se tivéssemos lido as manchetes dos jornais ou escutado o rádio, provavelmente teríamos sabido da ocorrência de uma catástrofe. A nossa angústia era o reflexo de uma hipnose coletiva. A fonte não éramos nós, mas sim a massa, era aquele estado universal que se transferiu de pessoas a pessoas, de lugar a lugar, de situação a situação – até nos empolgar e fazer-nos vítima do ambiente geral.

Esta nossa idéia diferencia-se totalmente da doutrina que subjaz geralmente às tradicionais curas espirituais, tanto à moderna organização da ciência mental, como também à psicologia e psiquiatria, que partem, todas elas, da tese de que no consciente do homem se aninhou algum erro; se fosse possível erradicar esse erro pessoal, seguir-se-ia a cura – de câncer, tuberculose, artrite, ou outro mal, seja ele qual for – porque todos esses males são atribuídos a uma disposição negativa do próprio doente. Muitos curadores perscrutam a mente humana a fim de “desmascararem o erro” e mostrar ao paciente que suas dificuldade provêm dos seus ciúmes, da sua sensualidade, da sua ganância, da sua malícia ou do seu ódio. Parece que muitos problemas, de fato, nascem dessas disposições negativas. Mas, no plano da vida humana, enquanto alguém vive neste mundo, todo homem participa necessariamente da consciência do mundo, aceitando ingênua e inconscientemente, o modo de pensar e agir dessa consciência geral.

Provavelmente, já te disseram que não terias estas ou aquelas dificuldades se tivesses sido um pouco mais atencioso para com fulano ou sicrano, se tivesses sido mais liberal ou mais agradecido para com os teus parentes; que, se quiseres ser curado, importa que sejas conciliador, amigável, bondoso, paciente ou generoso para com os outros. Isto é psicologia, é ciência mental, segundo as quais a enfermidade corporal ou mental é atribuída geralmente a uma causa psíquica.

Além disto, costumam os curadores mentais focalizar o paciente. Por vezes o nome do doente e a espécie da doença são mencionados. “Maria Isabel de Tal, tu és filha de Deus; tu estás de perfeita saúde; tu és espiritual, tu o sabes, Maria Isabel de Tal; tu és isto, tu és aquilo”. É este o modo como se processa a cura de um doente, embora a verdade seja esta que, Maria Isabel, essa criatura humana, não é nada de tudo isto. Tudo quanto este praticante mental sabe de Deus e à sua imagem e semelhança é projetado para dentro de Maria Isabel, como se ela fosse tudo isto. Martelando para dentro dela estas coisas, e afirmando-lhe que ela já é espiritual e perfeita, espera o curador da ciência mental realizar nela a sua mentalização.
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 26 de maio de 2017

A Realidade do Cristo -2 - JOEL GOLDSMITH







O Cristo em nós é a nossa inteligência divina, a nossa sabedoria espiritual. Esta não é a sabedoria humana: a sabedoria humana pode cometer erros; a sabedoria humana pode ser enganada.

Nossa sabedoria humana frequentemente se baseia em experiências passadas ou no senso comum; mas o Cristo (esta intuição espiritual, esta sabedoria, orientação e poder espirituais) nunca comete um erro; e Ele nos leva a fazer coisas que, humanamente, pensamos não serem sábias ou que, humanamente, nem mesmo poderíamos pensar em fazer. Nem mesmo podemos saber que passo devemos dar; mas este Cristo, ao abrir nossa consciência, dá o passo para nós, mesmo antes de estarmos cientes da necessidade.



Cristo é uma realidade. Cristo é aquele de quem você pode depender: você pode ouvi-Lo e, através dEle, encontrar sua inspiração, sua orientação, sua direção. Cristo é uma consciência de cura. Quando nos pedem para curarmos a nós mesmos ou a outros, se tivermos tocado este Cristo, não há mais necessidade de depender de afirmações da verdade ou de qualquer atividade. Este “Algo”, chamado de Salvador, o Princípio salvador, a Presença de cura ou o Cristo que cura, toma conta. Ele recupera; Ele revivifica; Ele reconstrói; Ele edifica.



Cristo é uma realidade. Cristo não é simplesmente um nome, um termo para alguma coisa intangível. Não, Cristo é tão palpável em sua experiência como qualquer coisa que você possa ver ou tocar. Ele é tão real como seu professor ou como um livro – só que mais real. Se todos nós pudéssemos conhecer a realidade, a onipresença, a onipotência do Cristo, entenderíamos por que podemos colocar nEle toda a confiança; como Ele vai à nossa frente para fazer tudo o que temos de fazer. Mas, o Cristo é mais do que isso! É uma influência unificadora. Cristo é o cimento, a influência unificadora, que nos une em entendimento.

Cristo é um fio invisível, que nos une; mas não só a nós: Ele une todos os homens e mulheres, por todo o mundo, independentemente de religião, de credo ou de região. Todos aqueles que têm como objetivo ver o reino de Deus manifestado na Terra estão unidos conosco através deste fio do Cristo.












F I M

quinta-feira, 25 de maio de 2017

A Realidade do Cristo - 1 -JOEL GOLDSMITH



 
 
O Cristo não é apenas um nome dado a alguma coisa intangível ou nebulosa. O Cristo é uma realidade divina, uma presença viva e onipresente. Ele está bem onde você está, e onde eu estou. Cristo não é uma pessoa. É um princípio. Ele é um princípio de vida. Ele é um princípio de Deus, que forma a realidade de seu ser. Mas, por causa da experiência do filho pródigo, entendemos o que é o poder físico, o que é o poder mental; sabemos o que é trabalhar arduamente com nós mesmos, mas não aprendemos ainda como ficar tranquilos e deixar o Cristo trabalhar. Nós, na crença, nos tornamos separados do verdadeiro Cristo do nosso ser. É quase como se vivêssemos numa casa com as persianas fechadas e nos acostumássemos a andar na escuridão ou num quarto iluminado artificialmente. 
 
À medida que o tempo passasse, esqueceríamos realmente que havia algo como a luz solar e que fora de nossas sombras delineadas estava o sol radiante e quente. Sob nosso aspecto de seres humanos, fizemos exatamente isso. Fechamos as persianas – nossas persianas mentais. Isto é o que Jesus quis dizer, ao afirmar: “Tendo olhos, não vedes e tendo ouvidos, não ouvis”. Estas faculdades espirituais foram fechadas, de modo que não estamos cientes do fato de que apenas além do âmbito de nosso aspecto humano existe a divindade do nosso ser chamada Cristo, o Espírito de Deus no homem. 
 
Em nosso estudo, em nossa prática, e na nossa associação com os outros, passo a passo desenvolvemos uma percepção deste Poder ou Presença infinita e invisível, chamada de Cristo. Descobrimos que há uma Presença real conosco, que desempenha nosso trabalho para nós; que o desempenha através de nós; que o desempenha como nós. Isto foi o que tornou possível aPaulo dizer: “Eu vivo, mas já não sou eu quem vive, é Cristo quem vive em mim”. 
 
Lembre-se de que Ele desempenhou aquilo que é dado para eu fazer; Ele aperfeiçoou aquilo que me ocupa, ou como o Salmista diz: “O Senhor aperfeiçoará o que me concerne”. Este é o Cristo, e este Cristo é o princípio ou o Espírito de Deus presente em você, como, digamos, sua integridade, sua lealdade, sua fidelidade, sua fidedignidade. Estas são as qualidades que você reconhece estarem presentes em você; e você as reconhece, não porque já as viu ou as ouviu, mas por causa de seu efeito em sua experiência. 
 
Sua honestidade e sua integridade conquistaram para você o respeito de seus sócios. A lealdade e a fidelidade fizeram de você bom cidadão, bom marido,ou esposa, bom filho. 
 
Estes são os efeitos da qualidade da integridade, da lealdade, da fidelidade, da honestidade e da fidedignidade. Mas há algo maior do que qualquer uma dessas, algo maior do que todas elas reunidas, e isso é a percepção consciente, o reconhecimento consciente deste Cristo, que pode criar e criará estas qualidades em nós, mesmo se e quando parecer que elas estão faltando.
 
 
 
 

quarta-feira, 24 de maio de 2017

O Cristo - Joel S. Goldsmith





Uma antiga escritura revela: "É difícil de se entender: doando nosso pão, nos tornamos mais fortes; dando nossas roupas aos outros, ganhamos em formosura; fundando moradas de pureza e verdade, adquirimos grandes tesouros".


Abraão, pai dos hebreus, baseou a prosperidade do seu povo na idéia do dízimo — doar um décimo dos ganhos para propósitos espirituais e caritativos, sem pensar em retorno ou recompensa.

"A imortalidade pode ser alcançada apenas pela prática contínua de atos de benevolência, e a perfeição se obtém pela compaixão e pela caridade." Quanto maior o degrau de amor altruísta que galgamos, mais nos aproximamos da compreensão do Eu universal como nosso ser real.

O sentido pessoal de "eu" (ego) está ocupado em ter, em obter, em desejar, em conseguir e acumular; enquanto nosso Eu verdadeiro está empenhado em dar, conceder, repartir e abençoar.

O sentido pessoal de "eu" representa a corporificação de todas as nossas experiências humanas, muitas das quais limitadas e indesejáveis. O Eu verdadeiro corporifica as idéias e atividades infinitas, espirituais, que se manifestam continuamente, sem limites ou restrições.

O pequeno "eu" preocupa-se basicamente com seus problemas pessoais e seus negócios, dilatando seus limites para incluir neles seus parentes próximos e seus amigos. 

O sentido pessoal, muitas vezes, avança além, envolvendo-se em trabalhos caridosos e de assistência comunitária, mas quando analisamos seus motivos percebemos tratar-se de ação governada pelo próprio sentido pessoal.

O "Eu" verdadeiro alimenta sua vida do centro do seu próprio ser, abençoando todos os que dele se aproximam; é reconhecido pelo seu altruísmo e desinteresse, por não buscar o reconhecimento, a recompensa ou qualquer engrandecimento pessoal. Não se trata de uma entidade sem vigor ou de um boneco que possa ser manipulado pelos mortais — de fato não pode nunca ser visto nem compreendido pelos mortais.

Recordo-me de dois belos exemplos que, em quadros comoventes, revelam as diferenças entre o pequeno eu pessoal e o Eu imortal.

Sidharta, que abandonara o lar e a família em busca da Verdade, recebeu por fim a iluminação, tornando-se o Buda, o Iluminado ou, poderíamos dizer, o Cristo do seu tempo. Seu pai, grande rei, sentindo a morte se aproximar e desejando rever o filho, mandou procurá-lo, pedindo que retornasse. Ao rever o filho, percebeu que o perdera, em sentido pessoal de pai e filho, mas assim mesmo tentou reconquistá-lo. Disse o rei: "Eu te daria meu reino, mas se o fizesse, teria para ti o mesmo valor da cinza". Buda respondeu-lhe: "Sei que o coração do rei transborda de amor... mas deixe que os laços do amor que te prendem ao filho que perdeste enlacem igualmente todos os teus súditos; assim em lugar de Sidharta receberás algo muito maior: receberás o Iluminado, o Mestre da Verdade, o Pregador da Retidão e ainda a Paz de Deus em teu coração".

O outro exemplo diz respeito ao grande Mestre. "E falando ainda à multidão, estavam fora sua mãe e seus irmãos que desejavam falar-lhe. E disse-lhe alguém: Eis que estão lá fora tua mãe e teus irmãos querendo te falar. Mas ele respondeu àquele que o chamara: Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos? E abrindo seus braços, apontando seus discípulos, disse: Pois qualquer um que faça a vontade do meu Pai que está no céu, este é minha mãe, minha irmã e meu irmão."

À medida que nos tornamos espiritualmente iluminados, somos procurados por aqueles que buscam se libertar de diversas formas de trevas materiais — da doença, do pecado, do medo, da limitação, da agitação e da ignorância. E nós podemos defrontar estas necessidades impersonalizando tanto o bem como o mal, e compreendendo que a harmonia é uma atividade e uma qualidade da Alma, que se expressa universal e individualmente.

Na meditação, ou comunhão, nos tornamos receptivos à Verdade que se desdobra dentro de nós — e a isto nós chamamos de oração. Nosso orar não deve ter ligação com o chamado paciente. De fato, a oração não é um processo, uma combinação de palavras ou pensamentos, de colocações, de declarações, de afirmações ou de negações. A oração é um estado de consciência no qual experimentamos a percepção da harmonia, da perfeição, da unidade, da alegria, da paz e do domínio. Com freqüência, a meditação ou comunhão traz ao indivíduo alguma verdade específica, e esta verdade aparece externamente como o fruto de sua própria conscientização do ser real.

Foi revelado, vezes incontáveis, que o talento, habilidade, educação e a experiência de cada indivíduo são de fato a Consciência que se desdobra em caminhos individuais — como artista, músico, vendedor, homem de negócios ou ator. Segue-se disso que a Consciência, que expressa a Si mesma, nunca está sem oportunidade, reconhecimento e aceitação. 

Assim, não pode haver dom sem reconhecimento, um talento ou habilidade sem expressão, um esforço sem recompensa, uma vez que todos os esforços e ações são Consciência expressando suas infinitas capacidades e possibilidades. A percepção consciente desta verdade fará dispersar a ilusão de desemprego, a falta de recompensa ou de reconhecimento. Contudo, guarde isso muito bem: a repetição destas palavras sem uma parcela de "sentimento" da verdade que encerram, será como "nuvens sem chuva", "vãs repetições", nada.

Desta mesma maneira já foi revelado que há apenas uma Vida, e que esta única Vida nunca está sujeita ao perigo de doença, de acidente ou morte. Esta Vida é a vida do ser individual. Nunca é necessário tratar diretamente uma pessoa ou um animal, mas estar sempre alerta para nunca aceitar a idéia ou sugestão de qualquer outra presença, poder ou atividade que não a única Vida, a única Lei, a única Alma. O viver constantemente nesta consciência do bem, da harmonia, dissipará a ilusão dos sentidos, quer se manifeste como pessoa doente ou pecadora. O simples declarar ou afirmar constante desta verdade nos seria de bem pouca valia, enquanto sua conscientização ou sentimento se nos manifestará como cura, como modificação, como renovação e até mesmo como ressurreição.

Recentemente, escrevi a um amigo por ocasião de seu aniversário, e creio que ele gostaria que eu compartilhasse com vocês as idéias que me ocorreram no caso:

“Quanto aos votos de aniversário, eu apenas gostaria que não tivesse qualquer aniversário, de modo que se lhe tornasse familiar a idéia de continuidade da existência consciente, sem parada ou interrupção — a conscientização do desenvolvimento progressivo.”

Na verdade, não há interrupção na continuidade da consciência que desenvolve, nem pode a consciência deixar de estar cônscia do corpo, assim como você jamais perde a consciência musical ou artística, ou qualquer outro talento que porventura possua.

A consciência se desdobra de dentro para fora de uma fonte ilimitada, da infinitude do seu ser, para a percepção individual de si mesma, em infinitas variedades, formas e expressões.

A morte é a crença de que a consciência perde a percepção do seu corpo. A imortalidade é a compreensão da verdade de que a consciência está eternamente ciente de sua própria identidade, corpo, forma ou expressão.

A consciência, cônscia do seu infinito ser e corpo eterno, é a imortalidade atingida no aqui e agora. A percepção de que "a consciência mantém sua própria identidade e forma" é a vida eterna. A percepção de que a consciência se desdobra eternamente nas formas individuais da criação ou manifestação, é a imortalidade demonstrada aqui e agora. "Esta consciência é VOCÊ."

A consciência espiritual é o abandono do esforço pessoal na realização de que a harmonia é algo que "já é". Esta consciência, com a renúncia ao esforço pessoal, é atingida quando percebemos o Cristo dentro de nós como uma realidade presente. O Cristo é a atividade da Verdade na consciência individual. É mais uma receptividade à Verdade do que a sua verbalização. 

Na medida em que conseguimos a quietude interior, tornamo-nos sempre mais receptivos à Verdade que se nos revela, dentro de nós mesmos. A atividade desta Verdade na nossa consciência é o Cristo, a própria presença de Deus. A Verdade recebida e mantida continuamente em nossa consciência é a lei da harmonia em todas as nossas vicissitudes. Ela governa, dirige, orienta e suporta todas as nossas atividades da vida cotidiana. Quando nos aparecer a idéia de doença ou carência, esta Verdade onipresente será o nosso curador e nosso recurso; será mesmo nossa saúde e nosso suprimento.

Para muitos, a palavra Cristo continua sendo um termo mais ou menos misterioso, uma entidade desconhecida, algo raramente ou nunca vivenciado diretamente. Se, porém, quisermos nos beneficiar com a revelação da Presença divina ou Poder dentro de nós, feita por Cristo Jesus e outros, teremos de modificar este estado de coisas. Devemos chegar à experiência do Cristo como uma revelação permanente e contínua. Temos de viver com a percepção consciente e contínua da verdade interior ativa; mantendo sempre uma atitude receptiva — ouvidos atentos —, não demorará para que tenhamos a experiência do despertar interior. Esta é a atividade da Verdade dentro da consciência, ou o Cristo que alcançamos.

Uma tal compreensão do Cristo nos esclarecerá a respeito da oração. Todas as definições do dicionário são unânimes em conceituar a oração com base na crença errônea de que haja um Deus, em algum lugar, a esperar que Lhe imploremos de algum modo. Então, se pudermos encontrar este Deus bem disposto, teremos nossas orações respondidas favoravelmente; a menos que, logicamente, nossos pais ou avós, até a terceira ou quarta geração tenham pecado e, neste caso, seremos imputáveis pelos seus pecados e teremos nossas orações jogadas na cesta de lixo do céu.

Nós temos um sentido diferente do que seja a oração. Percebemos que qualquer bem que nos aconteça é o resultado direto da nossa própria compreensão da natureza do nosso próprio ser. Nossa compreensão da vida espiritual se desenvolve à medida da nossa receptividade à Verdade, não orando a Deus, mas deixando que Deus Se revele e Se manifeste a nós. Este é o mais alto conceito de oração; é alcançado quando dedicamos alguns minutos, tanto de dia como de noite, à meditação, a comungar, a escutar. Na quietude, chegamos a um estado de receptividade que nos abre o caminho para sentir ou para perceber a presença real de Deus. Esta percepção, ou sentimento, é a atividade de Deus, a Verdade em nossa consciência, é o Cristo, nossa Realidade.

Normalmente, vivemos imersos num mundo sensorial (material), e nos preocupamos apenas com o objeto de nossos sentidos. E isso nos traz nossa experiência de bem e de mal, de dor e de alegria. Se nós, através do estudo e da meditação, nos voltarmos mais para o lado mental da vida, veremos que nossos pensamentos se tornam mais elevados e, com isso, teremos melhores condições. A medida que refinamos nossas qualidades mentais e manifestamos mais paciência, mais gentileza, caridade e perdão, estas qualidades se refletirão sobre nossa experiência humana. Mas não paremos por aqui.

Mais alto que o plano do corpo e da mente está o domínio da Alma, o reino de Deus. Aqui encontramos a realidade do nosso ser, nossa natureza divina — não que o corpo e a mente estejam separados ou afastados da Alma; apenas que a Alma é o recôndito mais profundo do nosso ser.

Nos domínios da Alma encontramos completa tranqüilidade, paz absoluta, harmonia e domínio. Aqui não encontramos nem bem nem mal, nem dor nem prazer, apenas a alegria de ser. Estamos no mundo, mas não pertencemos a ele, pois não mais vemos o mundo dos sentidos como aparenta ser, mas, tendo despertado nosso sentido espiritual, nós o "vemos como ele é" — vemos a Realidade através das aparências.

Até aqui, buscamos nossa felicidade no universo objetivo, em pessoas, lugares ou coisas. Agora, porém, através do sentido espiritual, do sentido da Alma, o mundo todo tende a nos trazer seus presentes, embora não mais pela busca direta de pessoas ou coisas, mas servindo-se destas como canais. 

No sentido material, pessoas e coisas são os objetivos — aquilo que desejamos. Através do sentido da Alma, nosso bem se desdobra a partir do nosso interior, embora se apresente como pessoas e condições melhoradas. O sentido da Alma não nos priva dos amigos, da família e do conforto da existência humana, mas nos dá isso com maior segurança, num nível de consciência mais alto, mais belo e duradouro.

Por muitos séculos, a atenção foi focalizada em Jesus Cristo como o Salvador do homem, e ao longo deste século o sentido espiritual da vida oscilou entre dois extremos, entre a luz e as trevas. 

Um mestre do século XVI escreveu: "Cristo (Jesus) chamou a Si mesmo de Luz do mundo, mas completou dizendo que Seus discípulos também eram a Luz do mundo. Todo cristão em quem esteja vivo o Espírito Santo, isto é, os verdadeiros cristãos, são um com o Cristo em Deus e são como o Cristo (Jesus). Portanto, eles terão experiências semelhantes, e o que Cristo (Jesus) fez, eles também farão".

Nossa tarefa é a descoberta do Cristo na própria consciência. Reconhecemos com alegria e amor profundo o quanto do Cristo foi alcançado, não só por Jesus, mas por muitos videntes espirituais e profetas de todos os tempos. Nosso coração está cheio de gratidão pela revelação do Cristo para tantos homens e mulheres de nossos dias. E olhamos agora para a frente, para a realização do Cristo em nossa própria consciência. "O reino de Deus está em vós, e aquele que o procura fora de si mesmo nunca o encontrará, pois fora de si mesmo ninguém pode ver ou achar Deus; pois aquele que procura Deus, em verdade já O tem."

Temos de compreender a palavra "consciência", pois só podemos comprovar aquilo de que estamos conscientes. Como estamos em termos de consciência? Somos ainda mortais? Ou já renunciamos à nossa individualidade material e reconhecemos ser o Cristo a plenitude, a presença de Deus? Algum dia teremos de abandonar o esforço para tudo conseguir e reconhecer a nós mesmos como sendo o eterno Doador em ação. Temos de alimentar cinco mil pessoas sem ter a preocupação de onde virá o alimento. A multidão pode ser alimentada pela nossa cristicidade. E onde estaria, pois, a carência a não ser na crença de que somos apenas humanos? Temos de nos livrar desta crença e proclamar nossa verdadeira identidade.

Quando nos deparamos com pessoas ou circunstâncias que têm aparência de mortalidade, devemos reconhecer: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo", e aquilo que nos aparece como mortal é ilusão, é nada. Não temos de temer nenhuma circunstância mortal ou material, uma vez que reconhecemos sua nulidade.

A Verdade é simples. Não há verdade metafísica profunda ou misteriosa. Ou é verdade ou não é verdade; e não pode haver verdade profunda ou superficial nem pode haver diversos graus de verdade. Para a verdade ser verdade, deve ser verdade absoluta.Ocupamo-nos agora com a verdade de que nós individualizamos o poder infinito. Não devemos procurar um poder fora ou separado de nós mesmos. Nós individualizamos o poder infinito na medida de nossa conscientização da Verdade.

A Vida, que é Deus, é nossa vida. Há apenas uma Vida, e esta é a vida de todos os seres, de todos os indivíduos. Nós individualizamos esta vida eterna, e não há menos Deus em alguns seres do que em outros. E esta vida, em todos, é sem doença e imortal. Nossa consciência desta verdade é a influência curadora dentro de nós.

Existe apenas uma Consciência, Deus. Esta Consciência onipotente e onisciente se indivualiza em nós; por isso, nossa consciência é o socorro sempre presente em qualquer circunstância. Por esta razão não oramos ou buscamos a um Ser longínquo, mas percebemos a onipresença da divina Consciência como nossa consciência, e deixamos que o aparente problema se vá. A percepção desta verdade nos confirma na consciência da presença da Vida, da Verdade, de Deus. A compreensão da unidade da Consciência como a nossa consciência, da Vida como a nossa vida, é a Verdade eterna.

O próximo passo no desenvolvimento é a descoberta de que, como individualização da Consciência, nós incorporamos em nossa própria consciência nosso corpo, nossos negócios e nosso lar. Podemos comprovar nosso domínio sobre o tempo, o clima, a renda, a saúde e o corpo apenas na medida em que sabemos serem idéias da consciência que somos. O lar, o trabalho e o corpo são idéias nossas, sujeitas à nossa compreensão, e a conscientização desta verdade nos confere o domínio. Isto não nos exalta como seres humanos nem nos torna divinos: isto varre de nós a natureza humana e revela nossa divindade.

Podemos medir nosso desenvolvimento espiritual observando se estamos, ou não, tentando melhorar uma condição física. Temos de lembrar que a vida orgânica do homem, do animal ou da planta não é a Vida, Deus, e sim conceitos humanos e limitados da Vida real; assim, qualquer tentativa de curar, mudar ou corrigir o universo físico é uma evidência de que não temos desenvolvido o suficiente a consciência espiritual.

A Cristo-consciência reconhece que toda a vida é Deus — mas percebe que aquilo que nos aparece como visão ou som materiais não é a Vida, mas mera ilusão ou um falso sentido de existência. A consciência espiritual distingue a vida que é real.

Já que não podemos resolver um problema em seu próprio nível, temos de subir além das aparências para trazer às claras a harmonia do ser. Aquilo que recai sob os cinco sentidos não é a realidade das coisas; assim não podemos julgá-las neste nível. Deixando de lado as aparências, damos as costas ao quadro que se apresenta aos nossos sentidos e começamos a ter consciência da Realidade — daquilo que é eterno.