quarta-feira, 19 de julho de 2017

A ARTE DA MEDITAÇÃO - CAPÍTULO 16





                 MEDITAÇÃO: OS FRUTOS

                              Capítulo XVI 




                    O FRUTO DO ESPÍRITO 

Na vida de todo buscador de Deus, chega o momento em que ele sente a Presença, e de um modo ou de outro adquire a certeza dessa Presença e desse Poder. 

Não podemos prever de que modo essa experiência acontecerá conosco, já que para cada um ela reveste de forma diversa. 

Um fato é indiscutível, quando ela acontece e a Presença do Senhor se realiza “surge a liberdade”, uma imunidade, uma libertação dos pensamentos e coisas deste mundo, de seus temores, dúvidas, cuidados e problemas. 

No momento exato em que o Espírito do Senhor toca uma pessoa, ela se transforma; passa a compreender o profundo significado do “renascimento”, do “nascer de novo”. Ela própria observa grande diferença dentro de si mesma, entre o que “ela é e o que era”. 

Essa transformação pode não ser logo percebida externamente, mas pouco a pouco, evidencia-se. 

Às vezes, logo no início, pode evidenciar-se de forma negativa: a perda precede o ganho. “Aquele que quiser perder sua vida ganhá-la-á”. 

A concepção habitual da vida deve ser sacrificada para que a concepção espiritual se firme. 
Antes que a plena realização dessa nova vida se instale, a ruptura dos antigos modos de viver deve manifestar-se com relação aos mais variados problemas: sociais, econômicos, físicos. Sobrevém impressão de perda, doação, sacrifício de alguma coisa. 



Realmente, isso é verdade; a partir do momento em que o Espírito do Senhor tocou uma pessoa, esta não se impressiona mais com aparências externas, nem se perturba, reconhecendo as facticidades como participantes de uma experiência transitória. 



Os primeiros mártires cristãos que se converteram dos deuses pagãos para o Único Deus, não pensavam mais de acordo com os padrões humanos. A perseguição de que foram vítimas, nada era, comparada com a excelcitude de sua missão espiritual. 



Ao expectador vulgar parece contra-senso, homens dignos serem apedrejados, lançados às feras, queimados em fogueiras. 



Do ponto de vista humano, assim é, mas quando o Espírito do Senhor toca uma pessoa, passa esta a compreender que, em verdade, nada está sendo desperdiçado, perdido ou sacrificado. 



O “martírio” só existe para aqueles que não compreendem. Para os espiritualmente iluminados ele é o cumprimento de sua experiência, de seu destino espiritual e o que eles recebem sobrepuja a perda aparente. Hoje a atitude do homem profano é semelhante à daqueles pagãos de 19 séculos atrás; considera ele, com assombro e desconfiança, aqueles que, deliberadamente, dedicam seu tempo e dinheiro ao aperfeiçoamento de sua natureza espiritual, em vez de correr atrás do prazer, da fama, de fortuna, de bens materiais. 



Tal escolha, aos olhos profanos, se compara ao sacrifício dos mártires cristãos; mas para aquele que vislumbrou a realidade da senda espiritual, sobretudo aquele que teve experiência Crística, sabe que a plenitude interior, o que ele ganhou em qualidade está acima de qualquer perda quantitativa. 



Neste mundo só há montanhas e baixadas. Algumas vezes contemplamos o mundo do alto de uma colina e ele se nos afigura tranqüilo e bom. Há outros dias em que nos encontramos abalados, desencorajados e até desesperados. Esses períodos não têm significado particular, nem real importância, eles fazem parte do ciclo rítmico da vida humana. 



Há sempre um vale entre duas serras; não é possível escalar a montanha anexa sem passar através do vale existente entre elas; as experiências do vale são simples preparação para as experiências do monte. 



Em termos bíblicos “nenhum homem pode ganhar a sua vida sem antes perdê-la”. É no vale que ele lança de si a carga do ego humano, com seus anseios, necessidades e desejos. Assim descarregado, está livre para escalar a montanha mais próxima. 



Prosseguindo a jornada, serão mais longas as experiências na montanha e mais curtas no vale. Isso acontecerá ano após ano, até que seja alcançado um ponto de transição em que as alturas passarão a ser o seu habitat natural. 



Hoje, pode ser esse dia de transição para nós. Daqui a um ano, seremos forçados a admitir a transformação progressiva operada em nossa vida, se decidirmos esquecer “aquelas coisas que ficaram para trás e alcançar as que estão à frente, galardão do chamamento de Deus em Cristo Jesus”. 



Nunca mais nos deixaremos impressionar pela concepção humana da vida. Não mais seremos capazes de amar ou de odiar intensamente como antes. Não mais ficaremos pesarosos ou jubilosos com a mesma intensidade ou emoção humana. 



A profundidade de nossa vida continuará a fornecer luz espiritual cada vez mais resplandecente, mais sábia orientação, de modo que cada dia seja de maior discernimento, de vida mais intensa do que o dia precedente, na atmosfera divina. 



Esse trabalho servirá como alicerce no qual será erigido o templo de nossa experiência individual, o templo que não foi feito por mãos humanas, mas eterno, nos céus. Anos e anos ouvimos falar na beleza do Cristo, do Poder do Cristo, da influência curadora do Cristo – “o Espírito de Deus dentro de nós” e muitos de nós têm sido abençoados através de pessoas que alcançaram o Espírito de Deus. 



Chegou o tempo em que já devemos depender de ensinamentos ou de iluminação de outros; devemos mesmos, adquirir a experiência que nos faculta estar neste mundo sem pertencermos a ele, cruzá-lo ante discórdias e desarmonias, bem como diante de prazeres e desprazeres, mantendo sempre nossa integridade espiritual. 



Abandonamos a antiga concepção de querer fazer algo; saber algo, de compreender algo; adotamos uma atitude de descontração no tocante à responsabilidade pessoal e aí permanecemos tranqüilos, quietos, na compreensão de que “onde está o Espírito do Senhor, está a libertação”. 



Tornamo-nos espectadores, contemplando Deus a operar em Seu universo, reconhecendo o Ser Transcendente na execução do Seu trabalho através de nossa consciência. 



Algumas pessoas chegaram a ter experiência de Deus sem aparentar sinais externos, por ignorarem o que ela representava, viveram apenas com sua lembrança, desconhecendo como foi ela alcançada e, sobretudo como mantê-la. 



Um adepto, porém, que devotou sua vida ao estudo da Sabedoria Espiritual e à prática da meditação, quando acontece a experiência de Deus, ele a recebe sem surpresa, pois compreende seu significado. 



Ainda que ele a aceite, jubilosamente, como evidência da Graça, sabe que foi alcançada após muito esforço. Não vive pois, com a simples lembrança porque sabe que aumentando a receptividade pela meditação constante, a repetição dessa experiência será freqüente, até chegar o tempo em que ela é alcançada pela vontade. 



Essa Presença Espiritual, esse Poder, esse Cristo que executa por nós as funções de nossa vida, é Invisível, mas nem por isso é menos real. Ele se encarrega das funções do nosso corpo, de modo a tornar para nós desnecessário preocuparmo-nos com suas atividades. 



O Cristo interno faz tudo o que nos compete fazer, inclusive ao nosso corpo. Gradualmente, à proporção que o Cristo passa a viver nossa vida, vai se diluindo a concepção de um corpo físico ou de atividades corporais. 



Se fosse necessário cuidar diretamente da circulação do sangue ou da função digestiva, estaríamos vivendo através de meios humanos e não pela palavra que procede da Boca de Deus (Fonte de energia Infinita). 



Não, o funcionamento do corpo sem auxílio de qualquer espécie, sem conhecimento ou interferência direta sobre o aparelho digestivo ou a circulação do sangue, é uma comprovação evidente da atividade do Cristo. 



A saúde é de Deus, assim, não existe “minha saúde”. “tua saúde”. Se aceitares esse conceito literalmente, veremos acontecer milagres. 



Deus não é pessoal, não obstante pode ser saúde e riqueza. Falar de “minha saúde”, “tua saúde”, é admitir que há graus de saúde, boa ou má. No modo espiritual de viver isso não acontece, pois só há uma saúde e essa é Deus. 



Uma vez que aprendemos o sentido de posse pessoal indicado pelas palavras “eu, meu, minha”, teremos encontrado o verdadeiro sentido da vida espiritual, universal, impessoal, harmoniosa. 



Deus expressa Sua harmonia através do nosso ser e essa harmonia pode ser bondade, saúde e nada mais é do que uma atividade, uma Lei de Deus. Reconhecendo-O como a Essência de todo o bem, tornamo-nos instrumentos para a manifestação da concepção universal do bem. 



A saúde não depende da digestão, eliminação ou atividade de qualquer órgão do corpo; é uma qualidade divina, depende de Deus. 



Lembremo-nos disso: o alimento que eu ingiro não tem valor nutritivo, substância ou poder de sustentar ou manter a vida, mas EU, a ALMA, minha consciência, comunica ao alimento a substância vital, seu valor, seu sustento. 



Se nos tornarmos conscientes disso, verificaremos que em nossos corpos os alimentos passarão a exercer efeito diverso daquele que até então produziram. “Ele faz o que foi dado fazer”, em conseqüência, a atividade do corpo é desempenhada por AQUELE que está dentro de nós. 



Por isso não nos preocupemos. Ele executa e aperfeiçoa aquilo que a nós concerne. Contemplemos Deus manifestando-se como nossa saúde, riqueza, força e vida. Assim acontece todas as fases de nossa experiência humana. 



Se adotarmos uma nova concepção a respeito da retitude da vida, se as palavras corretas forem proferidas no devido tempo, se os nossos atos externos corresponderem a uma atitude interna de retidão, teremos uma vivência harmoniosa e então sentiremos que cada fase de nossa experiência é o resultado direto da atividade do Cristo. 



Não precisamos nos preocupar, Ele, o Cristo, faz tudo antes mesmo que tenhamos alguma consciência do que está acontecendo. Ele, o Cristo, é a atividade do corpo, da bolsa, das relações com nossos semelhantes. A Presença vai à nossa frente para endireitar os caminhos tortuosos e preparar um lugar para nós. 



A Presença faz tudo por nós e nesse plano de existência passamos a viver como testemunhas contemplativas. Há inúmeras passagens bíblicas que revelam a importância de confiar no Senhor, de ser um contemplador da vida. Isso não significa sentar-se negligentemente e nada fazer. 



Ao contrário, quanto mais alguém confia no Senhor, tanto mais ele contempla Deus operando nele, através dele e como ele, tanto mais ativo se torna. 



Como contempladores executamos as tarefas que requerem nossa atenção e que estão ao alcance das nossas mãos. 



Se tivermos uma causa a cuidar, cuidemos dela; se nos for entregue a direção de um negócio, dirijamo-lo; se tivermos direitos a reclamar, reclamemos; porém, mergulharemos em nossas atividades com a seguinte atitude: “Confio no Senhor, observo o que o Pai me dá para fazer”. 



Mantemo-nos assim em tal estado de receptividade que, a qualquer momento, estaremos prontos para alterar os planos que propomos executar e seguir o plano divino. 



Há deveres a serem executados, obrigações a serem cumpridas em todos os dias de nossa vida. 



O que nos for dado fazer, deve ser feito. Sendo um “contemplador”, descobriremos que há uma orientação divina, um poder divino que nos guia. Esse é o estado de consciência atingido por Paulo “Não sou eu que vivo, é o Cristo que vive em mim”. 



É como se Paulo, o homem, se afastasse para um lado dizendo: “Cristo está em mim, está aqui, está atuando em mim, através de mim, como eu mesmo, ele vive minha vida por mim”. 



Essa é a atitude que mantemos como contemplador, quase como se disséssemos: “Na realidade, não estou vivendo minha vida. Observo o Pai a viver Sua vida através de mim”. 



Esse é o modo ideal de viver a senda espiritual da vida, senda na qual encontramos o mínimo de obstáculos, de dificuldades, de incompreensões. 



Há sempre uma Presença, o Infinito Invisível que vai a nossa frente endireitando os caminhos tortuosos, todas as minúcias de nossas experiências. 



É somente quando “eu penso, eu digo, eu faço coisas” que o resultado pode ser prejudicial. Nossa relutância em aguardar o tempo necessário, longo que seja, para que Ele tome conta de nós é o motivo de nossa frustração. 



Muitos não têm paciência de esperar até o momento em que a decisão se impõe. Insistem em saber a resposta adiantadamente, um dia, uma semana, um mês antes. 



Querem saber o que acontece em todos os lugares, querem saber hoje, o que vai acontecer na próxima semana, no mês próximo, que decisão tomar para o próximo ano, em vez de aguardar o momento em que a decisão é exigida e deixar que “Deus ponha a Palavra em sua boca e lhe revele a atitude a tomar”. Um dia, o maná cai, dia a dia para cada um deles, sabedoria, guia, orientação nos são conferidos. Nem sempre Deus nos adverte uma semana antes, a orientação é recebida quando dela necessitamos. 



Adquirimos o hábito da impaciência e em conseqüência, em vez de esperarmos que se manifeste a decisão de Deus, nós nos intrometemos e temerosos de efeitos possivelmente desafortunados, precipitamo-nos e agimos baseados em nosso melhor julgamento humano. 



No viver espiritual não dependemos da correta avaliação humana das situações. Por melhor que pareça o nosso ponto de vista, desviemo-nos dele e dirijamo-nos ao Pai: “Pai, mostra-nos como proceder, aponta-me o próximo degrau e diz-me como e quando deverei transpô-lo”. 



Com paciência e prática, aperfeiçoamos a consciência contemplativa de confiar no Senhor que nos conduz ao milagre da vida em que não somente descobrimos que há um Deus, como também que Ele se tornou o governante de nossa vida. Temos impedido a atividade de Deus em nossos negócios por não saber esperar, por não sermos contemplativos, por não nos sentarmos serenamente ao lado de nós mesmos, até sentirmos que o Pai está tomando conta de nós. 



Se fizéssemos isso apenas, atestaríamos o milagre da Presença Divina, indo a nossa frente para renovar todas as coisas. Quando “nós” tomamos uma decisão, encontramos, muitas vezes, obstáculos insuperáveis no caminho, mas, quando é Deus que decide, Ele vai adiante de nós e remove todos os obstáculos e providencia tudo o que é necessário para facilitar o empreendimento. Uma pequena prática diária para ser contemplador: “Pai, este é Teu dia, o dia que Tu fizeste. Nele me satisfaço e me rejubilo. Revela-me o trabalho neste dia; aponta-me, não as minhas, mas as Tuas decisões. Que unicamente Tua vontade seja a Razão e o princípio ativo de minha vida”. 



Disponhamo-nos a esperar o preciso momento em que uma decisão deva ser tomada; sejamos pacientes, muito pacientes. Ele virá e, uma vez obtida essa experiência, teremos testemunhado o milagre de observar Deus operando em nossos negócios. 



Quando essa crença se tornar experiência, não mais saberemos o que é ficar sem o governo de Deus, pois teremos descoberto que Deus responde, que Deus se encarrega... 



No salmo 23, lê-se que devemos habitar na mansão do Senhor todos os dias de nossa vida, todos os dias habitarei na Presença da Sabedoria de Deus, por Cristo, impelidos a agir por Ele, jamais tomaremos qualquer decisão sem o concurso da orientação espiritual. 



Muitas pessoas que alcançaram êxito na vida testificam a importância de estabelecer períodos de quietude a fim de obter recursos internos para inspiração e orientação. 



Descobriram que ordenando o trabalho do dia de modo a permitir mais freqüentes períodos de silêncio, longe dos cuidados mundanos, libertam-se de uma sensação opressiva, reabastecendo seus reservatórios íntimos de modo a torná-los dispostos com renovado vigor e interesse. 



Há um limite para o que, no espaço de 24 horas, pode executar o corpo e a mente humana. Porém desconhece limitações aquele que na senda espiritual aprendeu a entregar-se à atividade do Cristo, que não é medida em termos de capacidade humana. Ele opera através de Sua capacidade, sendo nós mesmos meros instrumentos. Nada existe que não possa ser extraído das profundezas de nosso ser, pois Deus é a mente do homem individual. Dispõe cada um de plena capacidade da natureza divina e segundo a tranqüilidade, e serenidade e quietude da mente “o Infinito se expressa”. 



Tanto a mente como o corpo são instrumentos de Deus; exatamente como usamos o braço e a mão para escrever, Deus emprega nossas mentes e corpos para tornar-se visível, tangível na experiência humana. 



Toda inspiração recebida de Deus traz consigo seu cumprimento. Por exemplo, se um inventor compreende que seu trabalho é atividade de Deus, tudo o que for necessário para a concretização da idéia será conseguido, seja propaganda, financiamento, compra ou venda. 



Isso é verdade para toda idéia creada em Deus, a fonte de sua inspiração é a mesma atividade que conduz à plena execução. 



Ninguém pode seguir, por determinado tempo, as instruções sobre meditação expostas neste livro, sem notar uma mudança na sua natureza espiritual. 



Desde o momento em que haja um afastamento dos liames materiais para outra modalidade de vida Invisível, antes desconhecido, é inevitável que essa alteração ocorra. “O fruto do Espírito é amor, alegria, paz, resignação, tolerância, bondade, fé, brandura, modéstia, humildade”. Tal fruto não vem para aquele que ainda não aprendeu a apreciar o Cristo, Sua Presença, Poder e Jurisdição. 



Antes da consagração e devoção em que alguém abandonou tudo pelo Cristo, deve proceder à colheita desse fruto. Mas, quando chegar o tempo, não mais se sentirá só, não mais temerá. 



Poderá caminhar no Vale da Sombra e da Morte e mesmo assim, a Presença estará com ele, repousando no centro do seu ser, ainda que sobre a sua cabeça desabe a tempestade. 



É Deus realizando-se como ser individual, então ele O vê como Ele é e Deus aparece como suprimento, abundância, harmonia, paz, alegria em sua experiência. 










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